Mesa de Bar

Lugar pra se falar sobre tudo e sobre o nada.

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

terça-feira, novembro 29, 2011

A família Trololó se diverte!





Dia 18: Um livro que ninguém esperaria que eu gostasse

Nem eu mesma esperava gostar. Mas até gostei.

Já tinha birra de longa data com o José Saramago quando vim a ler "Que farei com este livro?" e para minha surpresa fiquei bem surpreendida. Acontece que aqui Saramago não escreve como Saramago e como eu não gosto de como ele escreve, gostei de como ele não escreveu desta vez, entenderam?


Esta é uma das poucas (até onde eu sei) pecas teatrais de Saramago, fugindo portanto da sua forma comum de prosear.

A peça conta as dificuldades editoriais que Luís Vaz de Camões encontrou quando, tendo regressado da Índia, quis imprimir sua obra-prima, "Os Lusíadas" em Portugal. Taxas, impostos, licenças, vistos e permissões, do Santo Ofício, do Regedor Geral e de mais mil e um prebostes burocráticos. A isso se junta a pobreza pessoal e familiar, a falta de confiança que mesmo os grandes artista experimentam, o desânimo com a precária situação política que o país atravessava.

Não sei até que ponto o cenário é realista, mas descreve algo sobre o qual eu quase nunca penso: as dificuldades práticas, miúdas e gigantescas, para se realizar grandes obras de arte.

"António Gonçalves: Se vosso livro vender...

Luís de Camões: Não fareis mau negócio.

António Gonçalves: Mas, e se não vender?

Luís de Camões: Fá-lo-eis péssimo.

António Gonçalves: Agradeço-vos a franqueza.

Luís de Camões: É o que tenho para dar.

António Gonçalves: E quanto é que quereis pelo privilégio?

Luís de Camões: Cinquenta mil réis.

António Gonçalves: Pedis demasiado, senhor Luís de Camões. Vede que juntando-lhe os quarenta mil réis que custa imprimir o livro, teria eu um gasto somado de noventa mil réis.

Luís de Camões: Assim é.

António Gonçalves: Que talvez não me reembolse por inteiro.

Luís de Camões: É como dizeis.

António Gonçalves: Não sei se me interessa o negócio.

Luís de Camões: Nunca o sabereis se não o fizerdes. Mestre António Gonçalves, não há porta nenhuma a que eu possa bater. Esta é a única. Poderia dar-vos mesmo o meu livro, apenas com a condição de que o imprimísseis. Mas preciso de comer, precisamos, minha mãe e eu. Dai-me cinquenta mil réis e eu entrego-vos o meu privilégio, fazei do livro o que quizerdes, vendei o quanto puderdes. Haverá decerto quem o leia, e se ele vale quanto de mim pus nele, talvez o futuro vos conheça por terdes composto, letra por letra, página por página, os Lusíadas de Luís de Camões. (Pausa.) Perdoai a vaidade do autor."

domingo, novembro 27, 2011

Dia 17: Um livro que é um "guilty pleasure"

As Cem Melhores Histórias Eróticas da Literatura Universal, organizado por Flávio Moreira da Costa.


O livro reune contos, crônicas e trechos de romances dos mais variados autores e épocas, começando pelo Antigo Testamento e abrangendo de Flaubert a Sade, de Machado de Assis a Hilda Hilst, de Shakespeare a D.H. Lawrence.

Não preciso nem explicar porque é um guilty pleasure. Erotismo, sexo, prazer, educacão católica, culpa. Tudo interligado.

Mas, ò, não tem nada melhor para se ler a dois!

(desta vez não vou colocar nenhum trecho aqui, evitando atrair todos os tarad0s e pervertid0s da internet)

sábado, novembro 26, 2011

Dia 16: Livro preferido que virou filme

Eu normalmente não gosto dos filmes que foram baseados em livros. É o velho chavão: "o livro é sempre melhor". Mas a comparação é injusta com a sétima arte. O fato é que, para quem gosta muito de ler, a leitura sempre dá mais prazer do que assistir um filme. E isso não tem nada a ver com as qualidades artísticas seja da obra escrita, seja da obra filmada.

O Nome da Rosa, de Umberto Eco, é um livro fantástico, cheio de erudição, divertido e assustador. Como quase todos os livros dele, um dos autores contemporâneos de que mais gosto. Na minha opinião, O Nome da Rosa só não é superado pel'A Ilha do Dia Anterior, a obra de U. Eco que prefiro até hoje. Mas este não foi filmado.


A partir d'O Nome da Rosa, conseguiram fazer um filme com qualidades técnicas e estilísticas à sua altura. As obras divergem no final, há detalhes no livro que não são mencionados no filme, etc. Mas é um filmaço! E tem o Sean Connery, né?

Adorei os dois, acho o filme e o livro imperdíveis!

"Não escondo todavia que, no curso da viagem, detivera-se às vezes na beira de um prado, nas bordas de uma floresta, para apanhar alguma erva (creio que sempre a mesma) e punha-se a mascá-la com o rosto absorto. Trazia uma pequena provisão consigo, que comia nos momentos de maior tensão (e quão frequentes eles foram na abadia!). Uma vez que lhe perguntei de que se tratava, disse sorrindo que um bom cristão pode de vez em quando aprender com os infiéis; e quando lhe pedi para prová-la, respondeu-me que, assim como ocorre com os discursos, também para os humildes existem os paidikoi, ephebikoi e gynaikekoi e assim por diante, de modo que as ervas que são boas para um velho franciscano não são boas para um jovem beneditino."

sexta-feira, novembro 25, 2011

Dia 15: Livro preferido de férias

É de literatura leve que se deveria aqui falar. Nada muito intenso, nada muito complexo. Algo suave como a brisa fresca de um fim de tarde praiano, à sombra de uma varanda aberta para o mar.

Mas, enquanto o cenário muito me agrada, esse tipo de literatura definitivamente não. Quando leio, leio por engano. Acontece.

Livros para férias têm que ser absorventes e intrigantes. E volumosos, com muitas centenas de páginas. Não se vai correr o risco de acabar o livro em dois dias e ficar com mais oito pela frente sem ter o que ler. Já pensou se chove? Vai fazer o quê na praia com chuva e sem um livro realmente bom?!

Há uns anos atrás comprei As Noites das Grandes Fogueiras, do jornalista Domingos Meirelles, especialmente para me entreter durante certo período de inatividade. Gostei tanto que saí recomendando aos quatro ventos, mas poucos se animaram a lê-lo. Certamente, o tamanho do calhamaço e a brevidade das férias desanimaram alguns. São 765 páginas; garantia de muitas horas de ócio bem aproveitado.


Trata-se de uma grande pesquisa-reportagem sobre a histórica Marcha da Coluna Prestes pelo Brasil afora, ao longo de quase três anos. Contextualiza e situa muito bem um período que vi muito superficialmente nas aulas do colégio, o Ciclo do Tenentismo. Tem a precisão de dados e documentos oficiais. Tem a dramaticidade dos testemunhos pessoais. Tem a força do registro fotográfico. Tem a narrativa enxuta e direta, no tempo Presente, de um bom texto informativo.

E traz ao leitor a mesma euforia que devia exaltar os revolucionários, embriagados todos pela possibilidade utópica de fazerem valer seus ideais mais nobres.


"Quinta-feira, 31 de dezembro de 1925

O Estado-Maior revolucionário é despertado com uma notícia estarrecedora. Não poderia ter ocorrido tragédia maior no último dia do ano, quando já estavam de partida: o coronel Juarez Távora caiu prisioneiro das tropas legalistas.

Ao preparar uma emboscada contra uma lancha governista que circulava pelo Parnaíba, Juarez viu-se, de repente, envolvido por um pelotão do 29o BC, sediado no Rio Grande do Norte e que chegara ao Piauí há pouco mais de dez dias. Assustado com o tiroteio, seu cavalo empacou; Juarez, reconhecidamente mau cavaleiro, não conseguiu controlar o animal e foi obrigado a se render na fazendo Angelim.

Assim que se ouviram os primeiros tiros, em vez de tomar a direção das forças rebeldes, o cavalo arrastou Juarez para o caminho oposto. Diante dos soldados legalistas surge uma figura imponente, "um homem de porte varonil", camisa branca e bombachas, lenço vermelho no chapéu. Atira no chão o revólver e o punhal que traz no cinto largo e se identifica em voz alta:

- Sou Juarez Távora e me entrego prisioneiro!"

quinta-feira, novembro 24, 2011

Dia 14: Um livro que me lembra de alguém

Empaquei neste dia.


Novamente, porque há muitos livros que me lembram muitas pessoas e blábláblá. Mas principalmente porque a lembrança mais forte de todas não é boa. É meio traumática, aliás. Me deixou para sempre com medo de falar de livros e as pessoas me acharem pedante e me darem um coice com ferradura de aço.


É sabido que A Metamorfose, de Franz Kafka, é um dos livros mais famosos, mais lidos, mais comentados, mais analisados, mais estudados de todos os tempos. Pode-se dizer que é um livro que todo mundo leu. Óbvio que a afirmação "todo mundo leu" não quer dizer que 100% da humanidade leu, até porque boa parte da humanidade ainda não sabe ler. Mas é um livro que boa parte das pessoas que gosta de ler, que se interessa por literatura, já leu.





Então, o caso foi assim: estava eu numa livraria com o maior dos meus enganos. O maior dos meus enganos se pretendia um homem culto e sofisticado. Mas nunca leu muito, o que por si só não é um defeito ou falha de caráter. É só uma constatação.



Pois o maior dos meus enganos, na livraria, pega o volume d'A Metamorfose e me diz, todo entendido:

-Sabia que, na verdade, a barata de Kafka não era uma barata e sim um besouro?



E eu, na inocência:

-Ué, que engraçado, na tradução que li não falava especificamente nem em barata nem em besouro, só num inseto.



E ele, espantadíssimo:

-Você leu A Metamorfose????



E eu, ainda inocente e agora também espantada:

-Claro, ué. Todo mundo leu. Você não???



(lembrando: "todo mundo" quer dizer apenas muita gente, quer dizer quase todo mundo que gosta e se interessa por literatura)



Pois o maior dos meus enganos ficou furioso, disse que não tinha lido o livro e que eu era uma pedante, uma esnobe, uma elitista, que não via além do meu umbigo, que achava que a humanidade se resumia a mim mesma, etc. Enfim, me esculachou e arrasou ali na livraria. Um padrão que se repetiria várias vezes.



Então até hoje, ver, ler ou ouvir falar qualquer coisa d'A Metamorfose me faz lembrar daquele ser que tentou fazer com que eu me sentisse tão repugnante quanto a criatura em que Gregório Samsa se transformou.


"Durante o dia evitava mostrar-se à janela, por consideração para com os pais, mas os poucos metros quadrados de chão de que dispunha não davam para grandes passeios, nem lhe seria possível passar toda a noite imóvel; por outro lado, perdia rapidamente todo e qualquer gosto pela comida. Para se distrair, adquirira o hábito de se arrastar ao longo das paredes e do tecto. Gostava particularmente de manter-se suspenso do tecto, coisa muito melhor do que estar no chão: a respiração tornava-se-lhe mais livre, o corpo oscilava e coleava suavemente e, quase beatificamente absorvido por tal suspensão, chegava a deixar-se cair ao chão. Possuindo melhor coordenação dos movimentos do corpo, nem uma queda daquela altura tinha conseqüências."

sexta-feira, novembro 18, 2011

Belo Monte

Eu sou contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte devido ao gigantesco impacto ambiental que causará. Talvez apenas a transposição do rio São Francisco possa ser comparável.

Aquele vídeo que está rolando por aí diz muita bobagem, mas acerta uma: as pessoas precisam se informar. Antes de assinar qualquer coisa, contra ou a favor, leia a respeito e assuma uma postura crítica. Pode começar por algo mais superficial mesmo, como a página da wikipédia que eu linkei aí no título. Depois vá se aprofundando. Sobre Belo Monte. Sobre fontes de energia alternativas. Sobre hidrelétricas. Sobre comunidades indígenas. Sobre o ecossistema amazônico.

Eu também sou muito contra oba-oba ecológico. Sou contra abordagens emocionais em assuntos que devem ser tratados de forma extremamente racional. Sou contra gente se dizendo contra sem saber do que está falando.

E sou muito a favor da energia nuclear.

quinta-feira, novembro 10, 2011

Sério candidato a vídeo do ano

Hahaha!

quarta-feira, novembro 09, 2011

Agora é oficial.

Ontem à noite, Laurinha se declarou oficialmente na adolescência. Não mais na pré.
A nova decoração do quarto dela:


Justin Bieber na cabeceira da cama.



O jovem lobisomen e o Zac Efron na porta do armário.

Eu guento?
Guento, né.

Declaração

Pela milcentésima vez escuto a conversa de que bom mesmo é comecinho de namoro, quando ainda não se conhece bem o parceiro. Com o tempo, vai se conhecendo melhor e vem o inevitável desencanto.

Pois aqui declaro que quanto mais conheço, convivo e me aproximo do Boêmio, mais o admiro, mais me encanto, me apaixono, me derreto por ele. Não há pessoa mais maravilhosa que o meu amado maridão!

terça-feira, novembro 08, 2011

Me enchem de orgulho!

Ontem à noite, eu na cozinha preparando o jantar das meninas e elas na frente da tv vendo uma porcaria de novela qualquer. Entra Bibi na cozinha, muito contrariada, e me vem com o discurso:

-Mamãe, você precisava ver que absurdo! Na novela, uma menininha pede de presente um livro pra mãe dela e a mãe dela diz que livro é ruim porque depois que lê joga fora e que bom é comprar roupa porque roupa dura mais. Não é muita burrice da mãe dessa menina?

Claro que concordei e elogiei ela pensar assim.

Passa um tempinho e vem a publicidade da prefeitura sobre as obras na Savassi (bairro nobre de BH). É a vez da Laurinha entrar indignada na cozinha:

-Mãe, essa prefeitura é muito burra! Pra quê fazer obras na Savassi?? A Savassi já tava boa como tava. Tinha que arrumar onde precisa de verdade: nas favelas, nos bairros pobres.

Claro que concordei e elogiei o seu espírito crítico.

Sei que muitas vezes erro na educação das minhas filhas, mas quando escuto essas coisas, fico com a segurança que alguma coisa certa estou fazendo.

segunda-feira, novembro 07, 2011

Dia 13: Um livro que me lembra de alguma coisa

Exodus, de Leon Uris.
Um excelente romance histórico, gênero que muito me agrada e atrai. Li no início da adolescência, a mando da escola (só agora me dou conta que minha escola, no geral, mandava ler livros muito bons!) e adorei.





O livro trata da fundação do estado de Israel, pouco após o término da Segunda Grande Guerra, misturando personagens fictícios e personalidades políticas reais da época, em acontecimentos históricos que marcaram o sofrido século passado. Começa contando a trajetória individual de vários personagens (fictícios e verdadeiros) durante a guerra, os horrores dos campos de concentração, a miséria e violência também fora deles (capítulos em que o autor quase resvala no sensacionalismo ao descrever com tanta minúcia o que parece um pesadelo). Depois, por acaso, coincidência, ou propositalmente, todos (quase todos, muitos morrem no caminho) se encontram sob domínio britânico, naquilo que vai se constituir um dia na nação independente do povo judeu.

E tome lições de geopolítica, mas sem o tedioso tom professoral de algumas obras. Na verdade, a prosa muitas vezes se parecia com uma grande e magnífica empreitada jornalística. O livro é muito bom mesmo. Recomendo, apesar de já se terem passado muitos anos após sua leitura, não deve ter envelhecido mal.

E porque me lembra alguma coisa? Na mesma época em que o li, estavam sendo lançados e fazendo muito sucesso os primeiros filmes do Indiana Jones e eu tinha decidido que iria estudar História e virar arqueóloga. E quis ler todos os livros de História do mundo. Mas, né? Eu tinha uns treze anos, não dava conta. Aí eu substituí os livros de História por romances históricos, que tinham um pano de fundo real, que já davam uma idéia, muito desbotada mas ainda assim uma idéia, do como e por quê tinha sido aquele período, naquele local, daquele jeito.


Enfim, esse livro me faz lembrar de como eu adorava Indiana Jones, de quando eu quis fazer História e da minha paixonite platônica pelos meus professores dessa disciplina.

domingo, novembro 06, 2011

Dia 12: Livro preferido de ficção científica

Não é um gênero que me atraia e devo dizer que li muito pouco de ficção científica na vida inteira e nem sei bem se o que li era de fato ficção científica ou apenas ficção: Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury; Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley; O Homem Bicentenário e outros contos, de Isaac Asimov; O Vento Solar, contos de Arthur C. Clarke e vários do Michael Crichton. Tirando O Admirável Mundo Novo, nenhum deles me entusiasmou muito.

Mas tem o Contato, de Carl Sagan, que é capaz de salvar todo o gênero. Depois virou filme, bom filme também, com a Jodie Foster e ficou famoso. Mas desnecessário dizer que o livro é muuuuito melhor, principalmente para quem se interessa por ciência. Há mais detalhes, mais explicações, mais coerência, menos pieguice no final (que é bem diferente do final do filme).



Não é à toa que o Sagan é considerado um dos melhores divulgadores da ciência até hoje. Para mim, Dra. Ellie Arroway se tornou uma espécie de "quero ser assim quando crescer". Pesquisadora, inteligentíssima, independente, dedicada, bem-sucedida, esse é o meu alterego.


"O empreendimento era agora anunciado amplamente como uma atividade da espécie humana. O nome 'Consórcio Mundial da Mensagem' estava prestes a ser mudado para 'Consórcio Mundial da Máquina'. Os países que dispunham de um fragmento da mensagem tentavam utilizar esse fato para forcar a indicação de um dos seus cidadãos como tripulante. Os chineses haviam argumentado, sem estardalhaço, que em meados do próximo século eles seriam 1 bilhão e meio no planeta, muitos dos quais filhos únicos, devido à experiência de controle da natalidade patrocinada pelo Estado. Na vida adulta, previam, essas crianças seriam mais inteligentes e mais seguras, do ponto de vista emocional, do que as crianças de outros países., onde prevaleciam normas menos rígidas sobre as dimensões das famílias. Uma vez que dentro de 50 anos os chineses desempenhariam um papel mais destacado nos assuntos mundiais, mereciam ao menos uma das cinco cadeiras da máquina. esse argumento vinha sendo debatido em muitos países que nada tinham a ver com a Mensagem ou com a Máquina.

A Europa e o Japão haviam renunciado à representação na tripulação em troca de maior participação na construção de componentes da Máquina, que no entender deles seria de grande benefício econômico. Por fim ficou reservada uma cadeira para os Estados Unidos, uma para a União Soviética, uma para a China e outra para a Índia, ficando a quinta pendente. Esse resultado representou uma longa e difícil negociação multilateral, na qual foram levadas em conta a população, o poder econômico, industrial e militar, os atuais alinhamentos políticos e até um pouco da história da espécie humana.

À quinta cadeira candidataram se o Brasil e a Indonésia, com base no tamanho da população e no equilíbrio geográfico; a Suécia propôs que Ihe coubesse um papel moderador no caso de disputas políticas; o Egito, o Iraque, o Paquistão e a Arábia Saudita levantaram questões de eqüidade religiosa. Outros países sugeriram que ao menos essa quinta poltrona fosse decidida segundo critérios de mérito individual, e não de nacionalidade. Durante algum tempo, a decisão ficou em suspenso, como um curinga para uso posterior."

sexta-feira, novembro 04, 2011

Frase da Semana

"Quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro."

Ouvi isso ontem, numa palestra sobre educação financeira, quando um dos palestrantes discorria sobre bolsa de valores e alertava que quem quer mesmo ganhar dinheiro grosso, ficar rico, tem que viver disso, ou seja, estudar o assunto com seriedade e passar os dias alerta na frente do computador, fazendo cálculos e mandando comprar e vender. Um trabalho, na verdade.

Segundo o especialista, apesar do risco, as ações continuam sendo a melhor aplicação possível para o nosso suado dinheirinho. Depois do mercado de ações, os títulos do Tesouro Nacional e CDBs variadas. Poupança nem é considerada investimento, já que não se ganha dinheiro com poupança atualmente, só se evitar perder.

O pior de tudo são os títulos de capitalização e os fundos de renda fixa: equivale a jogar dinheiro fora. Não que os rendimentos sejam baixos, às vezes até nem são, mas o problema com essas aplicações é que as taxas de administração que os bancos cobram são extorsivas, levam todo o rendimento embora. De acordo com o economista lá, taxa de administração acima de 2,5% já torna a aplicação desvantajosa, rendendo menos que o índice de inflação. E os bancos cobram algo entre 4% e 4,5%.

Ah, e tomem muito, muito, muito, muito cuidado com previdência privada. Pode ser uma enorme roubada.

Os dois palestrantes, corretores da maior empresa de investimentos do Brasil, ambos com doutorado em Matemática Financeira, detonaram as instituições bancárias, falaram muito mal de todos os bancos, vilões de todos os horrores. Achei o fato curiosíssimo. Eu tinha para mim que todas as instituições financeiras (corretoras, seguradoras, bancos, etc) eram meio amiguinhas umas das outras, que se defendiam, que haveria um certo corporativismo, sei lá.

Fiquei surpresa ao saber que empresas, corretoras, acionistas, todo mundo em geral, odeia os bancos. Além de nós, cidadãos.

Ah, e sabem qual foi a empresa recordista em rendimentos nos últimos 10 anos, no Brasil? Petr0brás, Gerdau, Vale?

Que nada! Foram as L0jas Americanas, uma empresa classificada como de pequena capitalização (que não põe muitas ações no mercado). Rendeu 635% em uma década. Quem comprou R$1.000,00 em ações das Americanas em 2001, está agora com R$635.000,00!

quarta-feira, novembro 02, 2011

Dia 11: Livro preferido de animal

O Chamado Selvagem, de Jack London. Escrito em 1903, é uma história de ação e aventura do começo ao fim, com pouco, ou nenhum, rococó filosófico-intelectual. Um cachorro é o protagonista e todos os fatos são narrados sob seu ponto de vista.


Buck, um belo cão forte e vigoroso, é roubado de seus donos e levado para o Alasca, para puxar trenós, durante a corrida do ouro na junção dos rios Yukon e Klondike, em fins do século XIX. Ele tem que enfrentar os maus-tratos dos broncos garimpeiros, frio, fome, brigas com outros animais, exaustão física. Adapta-se à duríssima vida de um ambiente ainda primitivo e seu instinto ancestral de lobo vem à tona, fundando uma dinastia de cães-lobos livres.

O que me fez gostar demais do livro foi, novamente, a aura de independência, autonomia e auto-suficiência completas que rodeia todos os personagens. É preciso ser forte num ambiente hostil, mas a liberdade adquirida compensa. O que está em questão ali são valores como civilidade e lealdade, em contraponto com a natureza de cada indivíduo e o ambiente que o cerca.

Uma curiosidade: este era um dos livros preferidos de Christopher McCandless, o rapaz do livro "Na natureza Selvagem", de Jon Krakauer, (e filme homônimo de Sean Penn, em 2007) que em 1990 decide abandonar a boa vida na Califórnia e se embrenhar no mato em busca da comunhão com a natureza selvagem e pura.

"Certa noite, despertou sobressaltado, os pêlos eriçados, os olhos ansiosos, as trêmulas narinas farejando o vento. O chamado vinha da floresta, distinto e definido como nunca o fora. Assemelhava-se a um íntimo, longo e dolorido uivo, diferente de qualquer som produzido por cão nativo, mas que lhe soava estranhamente familiar, como um lamento muitas vezes ouvido. Atravessou correndo o acampamento adormecido e silenciosamente precipitou-se na escuridão da mata. O som crescia de intensidade à medida que se aprofundava na floresta e Buck, movendo-se com cautela, em breve atingia uma clareira. À sua frente, uivava um magro lobo da floresta, ereto sobre os quadris, apontando o focinho para o céu."

terça-feira, novembro 01, 2011

Dia 10: Clássico preferido

Segundo os literatos, o que faz um clássico ser "clássico" é sua atemporalidade. São livros que não envelhecem, não ficam datados, muito menos ultrapassados. Não representam a "voz de uma geração", mas o eterno e imperecível berro da humanidade.



Assim sendo, o meu clássico dos clássicos é o Dom Quixote de la Mancha, do sensacional Cervantes. Porque todas as nossas dores e alegrias estão ali retratados de forma magistral. Toda a insensatez e recato, toda a necessidade de reconhecimento, as vaidadezinhas e as muitas vergonhas, nossa imensa capacidade de altruísmo e nossas sórdidas mesquinharias. O medo de tudo, a covardia por nada. O anseio pela beleza, pela perfeição, pelo sublime. A ambição pelo elevado. Tudo o que nos faz humanos e o que desumaniza. A ira fácil, a melancolia suave, a felicidade desmedida. As muitas misérias e infinitos afetos. As surras que humilham o fidalgo e seu perdão incondicional. A ganância que move Sancho e a piedade que não deixa de sentir.





Não é, nunca foi, uma comédia, embora seja uma paródia e tenha seus momentos hilariantes. Não é, não deveria ter se tornado, uma história para crianças. Somos nós que estamos ali, do mais remoto antepassado ao mais distante descendente.


A linguagem, quase medieva, nos parece hoje empolada. É possível ler em espanhol, mas a leitura torna-se então mais trabalhosa e menos aprazível. Prefiro uma boa tradução.



"Conta Cid Hamete Benengeli, autor arábigo e manchego desta gravíssima, altissonante, mínima, suave e imaginada história, que, depois daquelas razões que houve entre o famoso D. Quixote de la Mancha e Sancho Pança seu escudeiro (de que no precedente capítulo XXI se deu conta) alçou D. Quixote os olhos, e viu que pelo seu caminho vinham uns doze homens a pé, engranzados como contas numa grande cadeia de ferro pelos pescoços, e todos algemados. Vinham igualmente com eles dois homens a cavalo, e outros dois a pé; os cavaleiros com escopeta de roda, e os peões com dardos e espadas. Assim que Sancho Pança, os viu, disse:


— Esta é cadeia de galeotes, gente forçada da parte de El-Rei, para ir servir nas galés.

— Como “gente forçada”? — perguntou D. Quixote — é possível que El-Rei force a nenhuma gente?

— Não digo isso — respondeu Sancho — digo que é gente que, por delitos que fez, vai condenada a servir o Rei nas galés por força.

— Em conclusão — replicou D. Quixote — como quer que seja, esta gente, ainda que os levam, vai à força, e não por sua vontade.

— É verdade — disse Sancho.

— Pois sendo assim — disse o amo — aqui está onde acerta à própria o cumprimento do meu ofício; desfazer violências, e dar socorro e auxílio a miseráveis.

— Advirta Vossa Mercê — disse Sancho — que a justiça, que é El-Rei em pessoa, não faz violência nem agravo a gente semelhante, senão que os castiga dos seus delitos.


Nisto chegou a cadeia dos galeotes, e D. Quixote com mui corteses falas pediu aos que os iam guardando fossem servidos de informá-lo, e dizer-lhe a causa, ou causas, por que levavam aquela gente daquele modo.

Um dos guardas de cavalo respondeu que eram galeotes (gente pertencente a Sua Majestade) que iam para as galés; e que não havia que dizer, nem ele que perguntar.

— Apesar disso — replicou D. Quixote — queria saber de cada um deles em particular a causa da sua desgraça.

A estes ditos ajuntou mais outros tais e tão descomedidos para resolvê-los a declararem-lhe o que desejava, que o outro guarda montado lhe disse:

— Ainda que levamos aqui o registro e a fé das sentenças de cada um destes desgraçados, não temos tempo que perder a apresentar papéis e fazer leituras. Chegue Vossa Mercê a eles, e interrogue-os se quer; que eles, se for sua vontade, lho dirão; pois é gente que põe gosto em fazer e assoalhar velhacarias.

Com esta licença, que D. Quixote por si tomaria, ainda que lha não dessem, chegou-se à leva, e perguntou ao primeiro por que mau pecado ia ali daquela maneira tão desastrada. Respondeu ele que por enamorado.

— Só por isso e mais nada? — replicou D. Quixote — Se por coisas de namoro se vai para as galés, há muito tempo que eu as pudera andar remando."