Mesa de Bar

Lugar pra se falar sobre tudo e sobre o nada.

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

terça-feira, dezembro 06, 2011

Dia 20: Último livro que li

Misto Quente, do velho safad0 Bukowski. Acabei agora mesmo. Li durante a tarde, enquanto Laurinha estudava para as provas finais e eu ia fazendo paradas na leitura para tirar dúvidas e esclarecer questões. Estava até interessante: no meio de um trecho escabrosamente escatológico, eu parava para falar sobre placas tectônicas e formas de relevo...


Eu já tinha lido alguma poesia de Bukowski e achei uma boa m*rda, como o próprio autor não se furtaria a dizer. Mas este foi o primeiro dos seus romances que me chegou às mãos e gostei bastante, embora não tenha achado muito original. Quem leu um beatnik niilista, leu todos. (será?) Fiquei com a impressão que Henry Chinaski, protagonista deste livro, Neal Cassady, protagonista de On the Road do Jack Kerouac e Bandini, protagonista de Pergunte ao Pó de John Fante são todos meio parecidinhos uns com os outros em termos de personalidade. Jonh Fante, pela antiguidade, está a salvo de qualquer acusação, mas os outros... Inspiração ou imitação?

De todo o jeito, foi emprestado por um colega do Rubão e não será devolvido.

"Durante toda a minha vida, naquele bairro, eu vivi batendo em teias de aranha, fui atacado por passarinhos e tinha morado com meu pai. Tudo era eternamente triste, lúgubre e maldito. Mesmo o tempo era insolente e cachorro. Ou ficava insuportavelmente quente semanas a fio, ou então chovia e, quando chovia, chovia por cinco ou seis dias. A água subia pelos gramados e invadia as casas. Quem planejou o sistema de drenagem foi muito bem pago pela sua total ignorância sobre o assunto.

E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, apesar de nunca ser o suficiente. A bebida era a única coisa que não deixava o homem ficar se sentindo atordoado e inútil o tempo todo. Tudo mais te pinicando, te ferindo, despedaçando. E nada era interessante, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses putos pelo resto de minha vida, pensava. Deus, eles todos tinham cus, e órgãos sexuais e suas bocas e seus sovacos. Eles cagavam e tagarelavam e eram tão inertes quanto bosta de cavalo. As garotas pareciam boas à distancia, o sol provocando transparencias em seus vestidos, refletido em seus cabelos. Mas chegue perto e escute o que elas tem na cabeça sendo vomitado pelas suas bocas. Você ficava com vontade de cavar um buraco sobre um morro e ficar escondido com uma metralhadora. Certamente eu nunca seria capaz de ser feliz, de me casar, nunca poderia ter filhos. Mas que diabo, eu nem conseguia um emprego de lavador de pratos.

Talvez eu pudesse ser um ladrão de bancos. Alguma porra. Alguma coisa flamejante, com fogo. Você só tinha direito a uma tentativa. Por que ser um limpador de vidraças?"

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Mais um Papai Noel dos Correios

Todo o ano eu participo do esquema beneficiente dos correios e escolho umas cartinhas para presentear crianças de famílias pobres. E todo ano eu tenho dificuldade de selecionar as cartas, porque as crianças normalmente pedem presentes muito caros, celulares com câmera fotográfica, Ipod, bicicleta e tal. Acima do valor do que estou disposta a gastar com minhas próprias filhas. Fico um tempão procurando alguém que queria uma simples boneca, ou um bichinho de pelúcia, ou um livro.

Este ano adotei uma estratégia diferente na hora de procurar as cartinhas adequadas ao meu orçamento. Parti do princípio de que quanto mais pobre a família, mais esquisito é o nome que dão aos filhos e mais simples provavelmente será o pedido. Então, fui lendo primeiro os nomes das crianças e escolhi os mais exóticos entre todos. Não deu outra: Katlinelle e Marcineusa querem uma boneca barbie cada uma e Wandernice* quer apenas um conjunto de panelinhas (que singelo!). Beleza! Assim eu consigo fazer mais sorrisos sem estourar minhas contas.

*Para manter a privacidade dos envolvidos, os nomes foram trocados.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Dia 19: Livro preferido de não ficção

Atualmente eu prefiro não-ficção a ficção. Ando lendo muito História, Biografias e Divulgação Científica. Enquanto a leitura de livros e artigos científicos propriamente ditos é praticamente uma obrigação profissional, a leitura de livros de divulgação científica, mesmo de outras áreas da ciência que não a minha, é puro prazer e delícia.



Em termos de divulgação da ciência para leigos, Carl Sagan, Richard Dawkins e Stephen Jay Gould são reis e senhores absolutos! (Stephen Hawking acho chato, sorry.) Entre estes, o que mais gosto é o Stephen Jay Gould. Quando digo "gosto", estou dizendo: amo, adoro, venero, idolatro e quero casar com ele (mas já morreu, não se preocupe, amore)!


Paleontólogo, evolucionista, historiador das ciências naturais, excelente escritor, professor titular de Havard, judeu de família pobre do subúrbio de Nova Iorque, agnóstico, democrata, bonachão, colunista de revistas populares semanais, Stephen Gould é tudo de muito bom!


Nos seus textos, ele procura explicar, com muita clareza e didatismo, como funciona o princípio da Evolução por Seleção Natural. Como e porque o Criacionismo é absurdo e sem sentido. Como a metodologia da ciência pode resolver questões morais polêmicas. Dono de muito bom-humor e vastos conhecimentos, ele mistura cultura pop, pesquisas de vanguarda, exemplos clássicos da Zoologia, fatos e notícias da mídia, casos antigos e modernos. Disso tudo saem as crônicas e os artigos mais sensacionais, verdadeiras aulas, divertidas e apaixonantes.


Recomendo todos os seus livros, sem restrições. Mas para quem ainda não tem muita familiaridade com o tema, sugiro começar pelo meu preferido: Dinossauro no Palheiro - Reflexões sobre História Natural, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Foi aí que me apaixonei pelo autor, pelo tema, pela forma de narrar, e nunca mais os abandonei!





"SE REIS PODEM SER ERMITÕES, ENTÃO SOMOS TODOS TIOS DE MACACOS


Aprendemos com nossos erros, talvez ainda mais com nossos enganos mais vergonhosos. Começo, pois, com uma história às minhas próprias custas. Muitos anos atrás, uma de minhas alunas contou-me sobre o irmão de seu pai, um homem severamente retardado, de índole quase infantil. Quando ela o descreveu como "meu tio", minha mente parou por um instante e me peguei pensando (sem nada dizer em voz alta, felizmente, de modo que a vergonha do erro permanecia interiorizada até agora): "Tios são pessoas sábias que oferecem conselhos gratuitos (nem sempre muito bons, reconheço) e nos levam a jogos de beisebol; como alguém com essas limitações pode ser um tio?". Felizmente, dei então um beliscão (metafórico) em mim mesmo e o solilóquio prosseguiu por outras linhas: "Ele é irmão do pai dela; é, portanto, pura e simplesmente, seu tio; tio é um termo genealógico de parentesco, não um conceito funcional de ação; ele é tão tio quanto qualquer outro homem que já viveu".

As relações evolutivas também são primordialmente genealógicas, não funcionais. Todos sabemos que as baleias são mamíferos por causa de ancestrais comuns, não peixes pelo fato de nadarem no oceano. Em termos genealógicos, a proximidade é definida pela posição que se ocupa numa sequência de ramificações - o que Darwin chama de propinquidade, ou contiguidade relativa. Posso ser, na aparência e nas atitudes, mais parecido com meu primo Bob do que com meu irmão Bill, mas Bill continua sendo genealogicamente mais próximo de mim. Função e aparência não precisam ter uma correlação rigorosa com propinquidade genealógica. [...] Os vertebrados terrestres ramificaram-se da linha dos primeiros peixes em algum ponto perto dos ancestrais dos peixes pulmonados modernos; as trutas evoluíram muito depois, de uma linhagem antiga remanescente de peixes. Portanto, se optarmos por classificar puramente por genealogia, os peixes pulmonados e as vacas têm que ser reunidos num grupo separado das trutas. Muitos hão de ficar contrariados com essa idéia, pois nossa classificação convencional mistura relações funcionais e relações estritamente genealógicas. Podemos dizer: "Um peixe pulmonado parece peixe, nada como peixe, age como peixe e (imagino, pois nunca tive o prazer) tem gosto de peixe. Portanto, é um peixe". Talvez. Mas, por propinquidade, os peixes pulmonados estão mais próximos das vacas."