Mesa de Bar

Lugar pra se falar sobre tudo e sobre o nada.

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

terça-feira, setembro 29, 2009

Racismo no Brasil?

Eu gosto muito do que o Alex Castro escreve no blog dele. Mas eu não concordo com quase nada do que ele escreve. Por isso mesmo eu gosto tanto.

Uma das poucas coisas com as quais eu concordo é que há racismo no Brasil, a despeito da propalada democracia racial e a despeito principalmente da intensa miscigenação. O Alex divulga a idéia de que há um racismo institucional, estrutural, mais do que propriamente pessoal; ou seja, as pessoas individualmente até podem não discriminar os negros, mas as instituições oficiais, sociais e as informais estão organizadas de tal forma que não oferecem oportunidades iguais.

Eu vou um pouco além. Eu acho sim que há muitas pessoas racistas neste país. Instituições não pensam por conta própria, apenas seguem diretrizes dadas por seres humanos. Bastou um pequeno esforço sincero de memória para me lembrar de várias vezes em que vi e ouvi manifestações do mais explícito e odioso racismo. Estes são apenas alguns poucos exemplos. Com certeza já fui exposta a muito mais que isso durante a infância e adolescência, mas por não ser negra nem militante da causa não prestei muita atenção; o preconceito, de tão normal, passou batido.

1) Incontáveis vezes ouvi motoristas de carro dizerem "Tinha que ser preto", ao verem algum negro fazer uma barbeiragem no trânsito, embora ficassem calados se o motorista roda-dura era branco.

2) A mãe de uma amiga disse ao seu filho mais velho, que namorava uma moça negra: "Se quiser casar com ela, case. Mas não tenha filhos, que eu não abençoo neto mulatinho."

3) Uma colega de graduação namorou um rapaz negro. A mãe dela, quando soube, a proibiu de levar o rapaz em casa e ficou mais de um mês sem conversar com a própria filha, de tão ofendida.

4) Quando eu, chocada, contei esse caso a uma roda de outros colegas de graduação, fiquei mais chocada ainda ao ouvir deles: "Ah, não! A Fulana tá namorando um negão?! Que horror!"

5) Numa festa em casa de uma senhora da sociedade mineira, ouvi a anfitriã dizer, alto e claro: "Em minha casa, preto e pobre só entram pra trabalhar." Fugi dali antes que ela me mandasse faxinar os banheiros.

6) Uma agência de empregadas certa vez mandou à casa de minha mãe uma faxineira de pele bem escura. Ela nos contou que mais de uma vez lhe aconteceu de chegar a uma casa e ser mandada de volta pela dona da casa que, em seguida, ligava para a agência e pedia uma outra moça "mais clarinha".

7) Quando eu morava em república, uma das moças com quem dividia a casa estava noiva de um negro. Ele nos contou que já foi barrado em lojas elegantes com o seguinte argumento: "não há nada aqui que você tenha dinheiro para comprar"

8) Uma amiga de outra das moças da república era mulata. Ouvi-a dizer, certa vez, que detestava negros em geral. Eu, de queixo caído, perguntei: "mas você não é negra?" Ela me atirou à cara a chapinha com que tentava alisar os cabelos crespos. As outras quatro tiveram que apartar a briga.

9) O Boêmio, que não é negro, nem branco, mas tem a cor-do-pecado-que-me-faz-tão-bem, também conta que já teve vários narizes torcidos em sua direção ao longo da vida. E já teve uma namorada cujo pai, estarrecido, foi perguntar à filha como ela podia beijar uma "beiçola" daquelas.

10) Em agosto deste ano, durante um congresso científico em Gramado/RS, uma turma da UFMG foi se divertir certa noite em uma boate da cidade. Dois negros, biólogos, foram atacados com spray de pimenta por um grupo de lourinhos nativos da cidade. Eram os dois únicos negros dentro da boate. Coincidência?

6 Comments:

Blogger Rubão said...

O mamelatocafuzo aqui concorda. bjs

9/29/2009 10:45 AM  
Blogger TIAGO SÂNZIO said...

na escola particular em que eu estudava era chamado de Mussum.

na rua a policia sempre revistava a gente, se tivesse parado na esquina.

a dona, branca, sempre colava a bolsa no corpo qd a gente passava.

passeando com uma amiga num shopping, olhares e olhares.. ela branca e gata, o que estaria fazendo com um neguim?

viva a democracia racial! viva gilberto freyre!

9/29/2009 11:25 PM  
Blogger Ju said...

Tenho muitas lembranças de situações acontecidas comigo, com meu marido, filhas e outros parentes ao longo dos meus mais de 50 anos. O mais difícil, entretanto, é que é um assunto praticamente impossível de compartilhar com outras pessoas (não negras), porque existe uma tendência de sempre descaracterizar a discriminação, colocando-nos na posição de paranóicos e sensíveis ao extremo.

9/30/2009 10:37 PM  
Anonymous Helê said...

Excelente post, Meg. E necessário, acho que faz parte da luta relatos como esse.
Beijos.

10/01/2009 8:42 PM  
Blogger Unknown said...

Concordo com você, as instituições apenas reproduzem o preconceito que existe em quem as administram. A mudança deve ser pontual.
É asqueroso estar perto de pessoas que se acham superiores a outras pela diferença de cor da pele..que coisa mais mesquinha né?!
O triste é encontrar negros que aceitam esse tipo de postura e negam o que realmente são (se é que alguém seja "algo" pela cor da pele!)

10/02/2009 3:49 PM  
Blogger Unknown said...

nossa, meu pai era super mega racista, eu odiava!

10/04/2009 10:05 PM  

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