Não-resoluções de Ano Novo
Esse negócio de fazer resoluções de Ano-Novo é procurar sarna para se coçar e frustração para se analisar.
Resolvi fazer não-resoluções:
- Não vou fazer exercícios regularmente. Uma caminhada de leve nos fins de semana e olhe lá.
- Anna Karenina vai ter que esperar, tenho outras prioridades de leitura.
- Não vou me obrigar a ler mais ou ir mais ao cinema. O ritmo atual de um livro e um filme por semana me satisfaz.
- Não vou mais fazer chapinha, nem escova progressiva, nem nada. A cabeleira que fique como quiser.
- Não vou fazer plástica na barriga. As estrias e flacidez que a maternidade me trouxe são como as cicatrizes de guerra dos heróis: lembranças das quais me orgulho.
- Não vou trabalhar mais do que já trabalho. Nem menos.
- Não vou tentar melhorar meu relacionamento com quem quer que seja. Eu me dou bem com quem eu gosto e não me dou bem com quem não gosto e é assim que deve ser.
///---///---///---///
Quando as pessoas normais (eu, i.e.) estão de mau-humor, elas reclamam, resmungam e enchem a paciência de meio mundo. Quando alguém brilhante está de mau-humor escreve pérolas como esta:
"Assistir à TV em tempos de passagem de ano é um exercício de estoicismo. Vá que seja. Lá estão, como não bastasse o enfaro de ceias homéricas, toneladas de matérias com os melhores augúrios para o ano entrante, a inevitável reportagem com o primeiro bebê do ano, matérias patéticas sobre o que se gostaria de ouvir de notícia boa em 2008, matérias sobre as lições que se extraem do ano que passou. E dá-lhe videntes, babalorixás, mães-de-santo, astrólogos de alta linhagem e - pasmem - até cientistas - a fazer longas exposições sobre o quão alvissareiro é o novo ano, pelo simples fato de que sucede o anterior. Dá-lhe retrospectivas, mostrando o lado sinistro do ano velho, perpassado por tragédias anunciadas, acontecimentos malsãos, tudo para referendar que 2008, não cabe dúvida, é, definitivamente, o ano. Nada mais justo, tendo a natureza sido tão cruel com os homens no passado tão próximo e já imemorial de 2007.
Conclusão: todo fim de ano, a TV é um grande livro de auto-ajuda audio-visual. Nesse caso, o texto dos repórteres e jornalistas parece psicografado a partir de vibrações emanadas pelo Roberto Carlos, depois de uma baita ressaca de água benta e óstia."
Ele, claro.
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Tenho um novo animalzinho de estimação. É um legítimo Tunga penetrans que eu trouxe da roça. Um bicho-de-pé.
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Os críticos de cinema dizem que um filme pode ser considerado bom se ele cumpre aquilo a que se propõe. Ou seja, uma comédia é boa se faz rir; um drama é bom se emociona, e por aí vai.
Eu fico aqui pensando no último filme do David Lynch (Império dos Sonhos) e não consigo imaginar qual é a proposta. Se a intenção era chatear a platéia com uma história confusa, sem pé nem cabeça e sem conclusão, então o filme é ótimo!
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Em se falando de leitura:
Terminei 2007 com chave de ouro, lendo O Óbvio Ululante do Nelson Rodrigues. Eu só conhecia a dramaturgia dele e não gostava. Já as crônicas são sensacionais!
Mas comecei 2008 meio mal, lendo A Inocência do Padre Brown de G.K. Chesterton e O Poeta e o Personagem de Juarez Fonseca. Chatinhos, os dois.
Resolvi fazer não-resoluções:
- Não vou fazer exercícios regularmente. Uma caminhada de leve nos fins de semana e olhe lá.
- Anna Karenina vai ter que esperar, tenho outras prioridades de leitura.
- Não vou me obrigar a ler mais ou ir mais ao cinema. O ritmo atual de um livro e um filme por semana me satisfaz.
- Não vou mais fazer chapinha, nem escova progressiva, nem nada. A cabeleira que fique como quiser.
- Não vou fazer plástica na barriga. As estrias e flacidez que a maternidade me trouxe são como as cicatrizes de guerra dos heróis: lembranças das quais me orgulho.
- Não vou trabalhar mais do que já trabalho. Nem menos.
- Não vou tentar melhorar meu relacionamento com quem quer que seja. Eu me dou bem com quem eu gosto e não me dou bem com quem não gosto e é assim que deve ser.
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Quando as pessoas normais (eu, i.e.) estão de mau-humor, elas reclamam, resmungam e enchem a paciência de meio mundo. Quando alguém brilhante está de mau-humor escreve pérolas como esta:
"Assistir à TV em tempos de passagem de ano é um exercício de estoicismo. Vá que seja. Lá estão, como não bastasse o enfaro de ceias homéricas, toneladas de matérias com os melhores augúrios para o ano entrante, a inevitável reportagem com o primeiro bebê do ano, matérias patéticas sobre o que se gostaria de ouvir de notícia boa em 2008, matérias sobre as lições que se extraem do ano que passou. E dá-lhe videntes, babalorixás, mães-de-santo, astrólogos de alta linhagem e - pasmem - até cientistas - a fazer longas exposições sobre o quão alvissareiro é o novo ano, pelo simples fato de que sucede o anterior. Dá-lhe retrospectivas, mostrando o lado sinistro do ano velho, perpassado por tragédias anunciadas, acontecimentos malsãos, tudo para referendar que 2008, não cabe dúvida, é, definitivamente, o ano. Nada mais justo, tendo a natureza sido tão cruel com os homens no passado tão próximo e já imemorial de 2007.
Conclusão: todo fim de ano, a TV é um grande livro de auto-ajuda audio-visual. Nesse caso, o texto dos repórteres e jornalistas parece psicografado a partir de vibrações emanadas pelo Roberto Carlos, depois de uma baita ressaca de água benta e óstia."
Ele, claro.
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Tenho um novo animalzinho de estimação. É um legítimo Tunga penetrans que eu trouxe da roça. Um bicho-de-pé.
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Os críticos de cinema dizem que um filme pode ser considerado bom se ele cumpre aquilo a que se propõe. Ou seja, uma comédia é boa se faz rir; um drama é bom se emociona, e por aí vai.
Eu fico aqui pensando no último filme do David Lynch (Império dos Sonhos) e não consigo imaginar qual é a proposta. Se a intenção era chatear a platéia com uma história confusa, sem pé nem cabeça e sem conclusão, então o filme é ótimo!
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Em se falando de leitura:
Terminei 2007 com chave de ouro, lendo O Óbvio Ululante do Nelson Rodrigues. Eu só conhecia a dramaturgia dele e não gostava. Já as crônicas são sensacionais!
Mas comecei 2008 meio mal, lendo A Inocência do Padre Brown de G.K. Chesterton e O Poeta e o Personagem de Juarez Fonseca. Chatinhos, os dois.
2 Comments:
Ah, Meg. Tem todo um Nelson pra você descobrir e se deliciar. Pode ir em frente, você não vai se arrepender. Abraço,
r
Meg, amei as não-resoluções, todas ótimas! Um felicíssimo 2008 prá você, com todas as suas não-resoluções devidamente cumpridas, tá bem? Beijo.
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