Mesa de Bar

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

terça-feira, julho 10, 2007

Bernardo Gouveia por Paulo Barbosa

Pouco se ouviu falar de Bernardo Gouveia neste mundo de Deus: aqui e algures é comum que se saiba da existência de determinado artista somente após a sua morte. Para além da súbita valorização que seus quadros adquirem, isso pode ter a ver com a nossa imensa capacidade em não reconhecer a genialidade quando ela está bem debaixo de nossos narizes. Felizmente, Bernardo Gouveia está vivíssimo e merece que se diga algo mais a seu respeito. Este que vos fala, por exemplo, teve o privilégio de compartilhar, ainda que à distância, de alguns momentos de sua biografia. Lembro-me que, nos tempos de escola, já o considerava o mais talentoso desenhista de nossa geração. Ninguém desenhava como ele, podem crer. Certa vez, Bernardo rabiscou duas enormes figuras extremamente sensuais, enlaçadas num abraço eterno, e as esticou no corredor da escola: foi um assombro para mim. As figuras não estavam nuas, apenas dançavam: um homem e uma mulher, entregues àquilo a que chamam amor. A inferência erótica criava-se na imaginação de cada um, e eis aqui a missão maior do artista: sugerir. Bernardo era um artista incomum, num período em que bastava juntar um monte de arame velho num canto para se consagrar em rei da cocada preta. Recordo-me de suas interferências bombásticas nas aulas de estética, mostrando, sempre, muita erudição: tomavam-no por louco. Não segui de perto o seu trabalho, mas sei que, na escola, Bernardo dedicou-se à pintura. Tempos depois, vi Bernardo pelos corredores do Borges da Costa, muito excitado, sabe Deus à procura de quê. Sei eu que lá foi morar durante algum tempo e que tornou-se um personagem borgiano, no sentido primeiro do adjetivo: aquela figura esguia, de olhos fundos e roxos, enfiada num chapéu e andando pelos corredores da moradia estudantil parecia um tipo saído de um dos contos delirantes do escritor argentino, não tenham dúvida: “A pinacoteca de Babel” poderia ser o título. Mais tarde, esbarrei com Bernardo, por diversas vezes, no Maletta, e lá dividimos duas ou três cervejas. Na época, ele agregou um elemento novo ao seu lay-out, o que o deixava ainda mais exótico: passou a andar com um saxofone pendurado no pescoço. Jamais o vi tocar o instrumento, mas na certa ele o tocava, talvez para espantar os maus espíritos, se os há. Mais adiante, tornei a vê-lo na feira de artistas da Savassi, num sábado de manhã: falamos mal das mulheres, sempre com muita propriedade e erudição, e ele me mostrou uma série de desenhos feitos com a temática do abraço: todos belíssimos, ágeis, vigorosos, dinâmicos, sensuais. Havia também umas pinturas e valiam um bom dinheiro, de que eu rigorosamente não dispunha. Saí dali com raiva de ser pobre e não poder possuir obra alguma de meu amigo. Eis que o vejo recentemente, os mesmos olhos fundos de quem vê muito, a mesma loquacidade, a mesma generosidade, a mesma ingenuidade perante as muitas maldades do mundo. Estava ali o grande artista de minha geração, o maior desenhista que já vira em atividade, finalmente reconhecido como “um notável surrealista” pelo mercado de arte paulista. Confesso que, para mim, a notícia não soou como novidade. Novidade foi terem demorado tanto a perceber isso.

7 Comments:

Blogger Juliana Sampaio said...

Fiquei curiosa pra ver algum trabalho, mas o cara simplesmente não existe para o Google! :-P

7/11/2007 1:43 PM  
Blogger MegMarques said...

Eu tbém já procurei por toda a internet, mas ele não está por aqui. Eu só conheço uma tela dele e acho que vou ter que ir ao atêlier pra conhecer mais.
Quem for aqui de BH e estiver interessado eu posso passar o telefone.

7/11/2007 2:00 PM  
Blogger Unknown said...

Conheci o Bernardo numa passagem rápido por BH.É um artista muito talentoso e uma pessoa maravilhosa. Infelizmente, ainda não tem divulgação na internet. Você conheceu seu ateliê? Quando puder divulgue imagens da obra dele. :)

7/18/2007 3:23 PM  
Blogger Unknown said...

Bom, eu não o conheço, mas confesso que fiquei SUPER curiosa para ver as obras depois que ouvi na Guignard sobre a intensidade dele. Se alguém possuir imagens do trabalhos, por favor, divulguem ou ao menos me enviem. Obrigada.

10/01/2008 11:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

aqui quem vos fala é a lenda urbana BERNARDO GOUVEIA é com prazer que leio as delicadas linhas de paulo barbosa e anuncio meu blog:ARTEGOUVEIA.blogspot.com deitem o cabelo queridos.BG

9/14/2009 6:34 PM  
Anonymous Anônimo said...

meu carissimo Paulo barbosa, já estou presente na internet no blog de Danilo Aun e no meu:arte gouveia. blog spot . com por favor se puderes divulgar em seu mailing seria de grande ajuda. abração GOUVEIA.

9/27/2009 2:59 AM  
Blogger MegMarques said...

Bernardo,

este blog não é do Paulo Barbosa.
Você pode encontrá-lo e contactá-lo diretamente por aqui:
http://humoralacarte.blogspot.com

abraço

9/28/2009 10:27 AM  

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