Mesa de Bar

Lugar pra se falar sobre tudo e sobre o nada.

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

quarta-feira, outubro 26, 2011

Dia 04: Primeiro livro que me fez chorar

Assim, me fez chorar forte, de ter que interromper a leitura, de soluçar alto, sacudindo os ombros, de ficar funguenta e ranhenta por horas. Tá certo que eu tinha uns doze anos apenas, ultrassensível. E os livros do José Mauro de Vasconcelos são escritos para isso: fazer chorar muito.

Rosinha, minha canoa. O livro mais comovente da minha primeira juventude. A história é uma fábula sobre um pescador do alto Araguaia que vive em completa liberdade e intimidade com a natureza. Só aí, já rolou uma identificação: a jovem Meguinha quer viver a vida do protagonista Zé Orocó, solta no mato, autônoma e independente.


Mas Zé Orocó acaba preso num hospício (ele fala com as árvores, os animais e com sua canoa Rosinha). Sofre de tudo, injustiças, incompreensão, torturas, mas principalmente do banzo das barrancas do rio. E Rosinha, esquecida, cheia de caruncho, amarrada numa margem, sofre de abandono. Tudo é descrito com uma linguagem até simplória, mas cheia de delicadezas e lirismo, escorregando na pieguice, mas muito pungente.

Lembro de ter relido mais umas duas vezes ao logo da adolescência e de ter novamente chorado na oração de morte de Rosinha. Muita gente, na hora final, não deve ter tanto a agradecer:

"Senhor meu Deus!
Obrigada por tudo!
Obrigada por me haver feito nascer um belo pé de landi!
Obrigada por ter deixado os índios me descobrirem!
Obrigada porque os índios me fizeram uma bela canoa!
Obrigada por todos os belos entardeceres, ao pôr do sol, que tive e que não verei jamais!
Obrigada por ter resistido sempre aos grandes banzeiros do rio!
Obrigada porque meu rio sempre foi o Araguaia, o rio mais lindo do mundo!
Obrigada por ter tido somente dois donos: Curumaré a quem servi com toda a minha alma, e Zé Orocó a quem amei com todo o meu amor!
Obrigada pela paciência com que me fez suportar os grandes momentos de saudade!
Por tudo obrigada, e ainda mais; por deixar que eu morra como sempre desejei, perto de quem sempre amei.
Obrigada meu querido Deus, porque a vida, apesar de tudo é uma beleza!"

2 Comments:

Blogger Rubão said...

Achei que fosse citar Meu pé de laranja-lima. Clássico do chororô infanto-juvenil.

bjs

r

10/26/2011 3:43 PM  
Blogger Tina Lopes said...

Tenho mó rancor desse senhor que faz crianças chorarem.

10/26/2011 4:38 PM  

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