Dia 07: Um livro que odiei mas tive que ler para a escola
Não lembro de ter odiado nenhum livro que li para a escola. Nos verdes anos de escola, eu gostava de todos os livros que lia. Gostava mais de alguns e menos de outros, mas sempre gostava. O que eu não gostava é que a escola muitas vezes indicava a versão condensada de livros clássicos e não a versão integral, como se fossêmos burrinhos demais para ler qualquer coisa com mais de duzentas páginas ou com um vocabulário mais refinado. A editora Ediouro era quem normalmente fazia o desfavor de traduzir, condensar e, frequentemente, RECONTAR a história, portanto empobrecendo sobremaneira, o melhor da literatura mundial. Foi assim com Winnetou, de Karl May (que eu adorei); com Sem Nome e Sem Ninguém, de Gene Stratton-Porter; com A Cabana do Pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe; entre outros.
O resultado disso é que depois de ler a versão recomendada pela escola, eu tinha que ir à biblioteca, ou à casa de alguém, e buscar a versão verdadeira, pois sabia que o que tinha lido era uma coisa pasteurizada, homogeneizada e sem sal.
E foi assim, recontado e requentado, que li pela primeira vez o Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Bronte. Não cheguei a odiar, mas também não achei grande coisa. E, verdade seja dita, também não achei a versão integral, da autora, tão fantástica assim.
"Minha caminhada até Thrushcross Grange foi interrompida por uma visita ao cemitério da igreja. Descobri sem dificuldade as três lápides. A do meio era cinzenta, e aparecia em meio às urzes. A grama cobria a de Edgar Linton. A de Heathcliff era inteiramente visível à luz da Lua. Demorei-me um pouco contemplando-as, sob a suave claridade do céu. Ouvi perpassar de leve o vento, e fiquei pensando como poderia alguém imaginar um sono inquieto para aqueles ali que dormiam sob a terra imóvel."
2 Comments:
Nunca descobrimos no tempo certo o que pode, eventualmente, fazer sentido mais tarde. Certamente isso não acontecerá por meio de obras editadas e condensadas. Pensando bem, isso é uma deslealdade com o escritor. Ele jamais, dessa maneira, te alcançará.
Eu so me lembro de ter lido livrinhos agua com acucar na escola.
inaier.blogspot.com
Postar um comentário
<< Home