Mesa de Bar

Lugar pra se falar sobre tudo e sobre o nada.

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

domingo, julho 02, 2006

Corujice descontrol

- Mãe, eles só gritam Brasil-sil-sil-sil quando o Brasil faz gol? Quando os outros países fazem gol eles não gritam?
- Não Laura, quando os outros países fazem gol não tem por quê gritar Brasil-sil-sil.
- Mas eles podiam gritar assim: Alemanha-manha-manha-manha
- Hahahahahahaha
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- - Mãe, o quê a gente ganha se o Brasil ganhar a Copa?
- - O hexacampeonato.
- - Mas a gente aqui de casa, ganha o quê?
- - Nada, a gente só fica feliz.
- - Só isso?!

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- Mãe, você está me dando cólica!
- Eu? E você sabe o que é cólica?
- É uma coisa que a gente tem quando a gente está comendo e outra pessoa fica falando muito no meu ouvido.
- Hahahahahahahaha
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Bibi ainda não entendeu a lógica do controle remoto da garagem. Eu a deixo acreditar que é ela quem manda no portão e ela fica satisfeitíssima ao ser prontamente obedecida a cada vez que grita “Abre, portão” ou “Fecha, portão”. Tanto assim que, às vezes, até o elogia: “Muito bem, portão esperto”.
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Aqui em casa adotamos o revezamento de tarefas. Se uma faz uma coisa pelo bem comum, é justo que, em seguida, a outra faça outra coisa. Mas Laurinha se aproveita da inocência da irmã: “Bibi, se fui eu que desarrumei, é justo que agora você arrume!”
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As meninas visitam o dentista anualmente. São regularmente orientadas em casa e na escola sobre a importância da higiene bucal.
Pois hoje elas estavam fazendo manha pra escovar os dentes e eu cometi o disparate de dizer: “Os bichinhos da cárie vão fazer uma festa na boca de vocês!”
Aí que elas não se dispuseram mesmo a escovar: “Quero festa na minha boca, quero festa na minha boca!”
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Mini-conto

Os literatos afirmam que qualquer tema, mesmo o mais insignificante, é passível de ser transformado em boa literatura. Como estou longe de fazer literatura, ainda mais da boa, me conformo em usar temas ainda menos que insignificantes para os meus escritos. Como este pequeno conto sobre uma barata que chinelei ontem à noite na área de serviço aqui de casa:

A chinelada foi certeira e partiu o monstrengo em dois hemisférios, vazando grumos brancos e verdes por entre as frestas da casca. A maldita barata ficou achatada, prensada contra o chão, mexendo freneticamente as antenas, mas já sem expectativa nenhuma de vida.
Meu asco pela coisa agonizante me fez adiar o inexorável momento de dar-lhe túmulo no balde de lixo. Fui me ocupar de coisas mais urgentes, sem nunca tirar da memória o tenebroso serviço fúnebre que me aguardava.
Minutos mais tarde, ao voltar com a vassoura e a pá, tive a pavorosa sensação dos filmes noir, quando o assassino, ao retornar ao local do seu crime para esconder o corpo, descobre que o cadáver sumiu. Pois qual não foi o meu horror e espanto ao ver que minha vítima tinha desaparecido!
Calafrios me assaltaram e fiquei imaginando se o mórbido animal não estaria no batente da porta ou no teto, sobre a minha cabeça, ou atrás do balde, tramando sua maligna vingança contra mim. Ou teria aquele ser hediondo, erro bem-sucedido de uma alucinação evolutiva, voltado ao sub-mundo dos esgotos, de onde nunca deveria ter saído, para encontrar a morte entre os seus? Procurei ao meu redor, com o pânico crescente de quem se sabe espreitada, mas não pode prever de onde vem o perigo.
Não encontrei a moribunda. Pus minhas esperanças no fato de que ela, eviscerada, não sobreviveria por longo tempo. De qualquer forma, não pude dormir essa noite. Fiquei de vigília. Ter a barata semi-morta em casa e não saber onde ela estava foi exasperador. Tive medo de dormir e sonhar pesadelos macabros, em que o inseto, transformado em morto-vivo, de antenas ativas, patas estraçalhadas e passo claudicante, no melhor estilo cine-trash, me perseguia enquanto balbuciava: ”Cérebro, cérebro, cérebro”.
Com a luz do sol, me acalmei. Onde quer que esteja, não deve estar mais entre nós. Ou talvez esteja, que estas aberrações da natureza são mais apegadas às alegrias da vida do que podemos imaginar. Em dúvida, comprei logo três latas de detefon e intoxiquei a casa toda. Vou passar o resto da semana num hotel.
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O caso Richtofen

Há uns tempos, num bar, na mesa ao lado da minha, um grupo de coroas beirando os sessenta anos, comentavam o caso da Susana Richtofen, a moça que mandou matar os pais. O caso é triste, tenebroso, tétrico.
Mas a bem da realidade, se é possível viver sem dinheiro, sem romance, sem esperança; não é possível viver sem uma dose de humor. Um dos coroas dizia: ”Numa hora dessas, eu até acho bom os meus filhos serem um bando de vagabundos, péssimos estudantes, mas que pelo menos não pensam em me matar.”
E o outro: “Pois é. Quando a minha filha adolescente veio me contar que está grávida do namorado, eu até disse pra ela: Isso filha, me mata de desgosto, mas não me mata de paulada.”

3 Comments:

Blogger Cam Seslaf said...

Adorei as meninices! ;D

7/03/2006 4:31 PM  
Anonymous Anônimo said...

Crianças são maravilhosas! Amei!
Estou com a lógica da Laura, eu me aproveitava de minhas irmãs... kkkk
Amei a do portão, lê logo o Abre-te sésamo para ela. Até hoje eu falo isso quando uso o controle da garagem. Ou de molecagem quando alguém perde as chaves.

A barata: tenho a solução(vou cobrar a consultoria). Basta limpar todos os dias a casa com Pinho sol. Aqui não há nem sombra de nenhuma. Nem entram em casa. E olhe que nos outros aps há.

7/03/2006 8:54 PM  
Anonymous Anônimo said...

Voltando ao balde derramado...

I
Aquele a quem eu quis para ser meu,
que foi um sonho e foi realidade,
que me ensinou o riso e a claridade,
friamente de mim já se esqueceu.

Doente de abandono e ansiedade,
chamei, chorei, mas nada o demoveu:
"Outra encontrei que amo de verdade"
falou, calmo e sereno e disse adeus.

Olho-me e rasgo-me, meu pranto vai contigo.
Forças encontro dentro de mim, comigo,
que à minha volta estendo num abrigo.

Não mais, amor, não mais, eu te amarei.
Novos caminhos, estradas, rumos, sigo:
não serás mais feliz do que eu serei.

II

Mil palavras mil vezes me disseste
de amor intenso, forte, arrebatado,
e bastou-me a promessa que fizeste
ao meu pobre coração desocupado...

Fui para ti um rápido momento,
brinquedo vivo, ardente, iluminado,
despertaste em mim um sentimento
que muito me alegrou ver despertado.

Eras para mim o Príncipe Encantado
mas nunca fui para ti a Cinderela:
sonhei sozinha um sonho desprezado!

Meu pobre Príncipe, sem ti, a vida é bela.
Nunca mais reinarás tão descansado
num outro coração tão apaixonado.

7/04/2006 8:55 AM  

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