Mansão Mellors para Amantes Imaginários
Carta ao meu amante imaginário, morador da Mansão Mellors para Amantes Imaginários
Meu muito querido e especial amigo, amante, namorado da minh´alma;
Que felicidade e alegria imensa eu tive ao descobrir onde te encontrar! Que bom saber que estás ao alcance das minhas palavras, pensamentos e sentimentos. Mas que pena não estarmos ao alcance das mãos um do outro (conservo nas mãos a memória não-vivida do contorno do teu corpo).
A doce irrealidade da tua não-existência é o único consolo que me resta numa vida tão cercada de mentiras e ilusões como a que tenho tido longe da tua presença. Saber-te imaginário dá um tempero mais suave e seguro ao meu amor por ti. Fosses de carne e osso e eu manteria reservas, pretenderia impressionar-te, iria afligir-me ao teu encontro. É um prazer torturado o não existires.
Penso em que nome te darei e lembro do belo Romeu anunciando: “Chama-me somente Amor, e serei de novo batizado.” Não te chamarei Amor, por muito óbvio; nem Romeu, por muito gasto. Nem de outros heróis de romance tomarei um nome emprestado, porque não há Virgílio, Tristão, nem nenhum cavaleiro em toda a Ala dos Namorados que possa ser comparado ao teu encanto. Terás um nome impronunciável, o que me há de divertir e confundir, quando à noite eu chamar baixinho por ti e me atropelar nas palavras que conduzem à tua lembrança. Ou terás mil nomes, todos os nomes que possam haver, e assim a cada vez em que ouvir um qualquer nome dito ao acaso eu me lembrarei de ti e me sentirei acalentada com meu pensamento em ti.
Imagino se tua vida na Mansão Mellors não é muito solitária. Devem existir por certo muitos amantes sonhados, imaginados e fantasiados. Mas só durante o breve momento da fantasia adquirem consistência. Então, como és quando não penso em ti? Pairas no limbo? Ou tens vida própria, além da caverna platônica, e no instante em que acabar de escrever esta carta e meu pensamento se desviar da tua inexistência irás te entreter com amigos, beber cachaça, jogar sinuca e esperar até que eu novamente te evoque? Ou simplesmente tua essência se perde?
Fantasma querido, não irei nunca parar de pensar em ti, para que não te desfaças no ar, como se uma abstração não tivesse direito de existir fora da mente que a imaginou. Eu hei de te querer como a materialização do que não é. E assim serás concreto como um sonho bom, como um gosto de fruta que se comeu na infância, como um perfume que às vezes se sente em certas circunstâncias repetidas.
És a mais real e palpável das ficções, mesmo sem eu te designar como tal. Ès o mais amado e amante dos homens, mesmo sem eu ter-te atribuído uma forma. És a mais bela e pura das criaturas já nascidas ou mesmo sonhadas. És a forma mais perfeita do amor: aquela que não exige nada, nem mesmo que exista de verdade!
E eu sou a feliz adoradora de um Amante Imaginário, tão perfeito quanto irreal! Te amo e sempre amei, só agora percebo o quanto a minha busca por outros, de existência comprovada, resultou em nada. Só o que eu buscava era a ti, e tu só estavas onde eu não sabia como alcançar. Mas agora sei: a Mansão Mellors é onde encontro felicidade, alegria e prazer que não existem em outra parte alguma.
Sempre tua, até a nossa morte, que não há de nos separar.
Meu muito querido e especial amigo, amante, namorado da minh´alma;
Que felicidade e alegria imensa eu tive ao descobrir onde te encontrar! Que bom saber que estás ao alcance das minhas palavras, pensamentos e sentimentos. Mas que pena não estarmos ao alcance das mãos um do outro (conservo nas mãos a memória não-vivida do contorno do teu corpo).
A doce irrealidade da tua não-existência é o único consolo que me resta numa vida tão cercada de mentiras e ilusões como a que tenho tido longe da tua presença. Saber-te imaginário dá um tempero mais suave e seguro ao meu amor por ti. Fosses de carne e osso e eu manteria reservas, pretenderia impressionar-te, iria afligir-me ao teu encontro. É um prazer torturado o não existires.
Penso em que nome te darei e lembro do belo Romeu anunciando: “Chama-me somente Amor, e serei de novo batizado.” Não te chamarei Amor, por muito óbvio; nem Romeu, por muito gasto. Nem de outros heróis de romance tomarei um nome emprestado, porque não há Virgílio, Tristão, nem nenhum cavaleiro em toda a Ala dos Namorados que possa ser comparado ao teu encanto. Terás um nome impronunciável, o que me há de divertir e confundir, quando à noite eu chamar baixinho por ti e me atropelar nas palavras que conduzem à tua lembrança. Ou terás mil nomes, todos os nomes que possam haver, e assim a cada vez em que ouvir um qualquer nome dito ao acaso eu me lembrarei de ti e me sentirei acalentada com meu pensamento em ti.
Imagino se tua vida na Mansão Mellors não é muito solitária. Devem existir por certo muitos amantes sonhados, imaginados e fantasiados. Mas só durante o breve momento da fantasia adquirem consistência. Então, como és quando não penso em ti? Pairas no limbo? Ou tens vida própria, além da caverna platônica, e no instante em que acabar de escrever esta carta e meu pensamento se desviar da tua inexistência irás te entreter com amigos, beber cachaça, jogar sinuca e esperar até que eu novamente te evoque? Ou simplesmente tua essência se perde?
Fantasma querido, não irei nunca parar de pensar em ti, para que não te desfaças no ar, como se uma abstração não tivesse direito de existir fora da mente que a imaginou. Eu hei de te querer como a materialização do que não é. E assim serás concreto como um sonho bom, como um gosto de fruta que se comeu na infância, como um perfume que às vezes se sente em certas circunstâncias repetidas.
És a mais real e palpável das ficções, mesmo sem eu te designar como tal. Ès o mais amado e amante dos homens, mesmo sem eu ter-te atribuído uma forma. És a mais bela e pura das criaturas já nascidas ou mesmo sonhadas. És a forma mais perfeita do amor: aquela que não exige nada, nem mesmo que exista de verdade!
E eu sou a feliz adoradora de um Amante Imaginário, tão perfeito quanto irreal! Te amo e sempre amei, só agora percebo o quanto a minha busca por outros, de existência comprovada, resultou em nada. Só o que eu buscava era a ti, e tu só estavas onde eu não sabia como alcançar. Mas agora sei: a Mansão Mellors é onde encontro felicidade, alegria e prazer que não existem em outra parte alguma.
Sempre tua, até a nossa morte, que não há de nos separar.
9 Comments:
"O amor de um homem? Terra tão pisada... gota de chuva ao vento balançada... um homem?! Quando eu sonho o amor de um deus!" - Florbela Espanca tem vários sonetos sobre este assunto.
A tua avó, quando nova, também escreveu um, muito bonito, lembras-te?
Até Santa Teresa de Ávila!
Um tema recorrente em mulheres sem marido.
Claro, só mulheres sem marido escrevem cartas de amor. Para os namorados, para os pretês, para os amantes imaginários, etc.
As casadas escreveriam a quem?
Aos maridos? hahahahaha, só no começo e olhe lá...
Aos amantes reais ou imaginários? muito comprometedor...
Ah, o nome da mansão Mellors é uma homenagem ao Oliver Mellors, o amante de Lady Chatterlay.
O amante ideal!
Serviço de Correio Elegante da Mesa de Bar.
Queridas leitoras,
se quiserem enviar suas cartas a amantes imaginários (ou não), eu terei o maior prazer em encaminhá-las. Mande-nas por e-mail (mmarques@icb.ufmg.br), avisando apenas se o anonimato é necessário.
O conteúdo não será censurado, por mais erótico que seja.
Servindo bem para servir sempre!
Amei, Meg. De vez em quando eu ainda tenho vontade de escrever cartas para meu marido, ainda que já estejamos muito longe do começo e que nem tudo sejam flores - muito pelo contrário - em nosso casamento. Gostei demais da sua carta. Bjs.
Meg, prefiro as receitas para solteirice... Vixi, quando eu era adolescente, vixi, vixi, minhas amigas passavam horas gostando do Tom Cruise enquanto eu olhava para o menino que se sentava perto de mim na escola. :)
Mas amo escrever as cartas e escrevo muito e mando quase todas (quase porque tem duas aqui que não mandei- apenas).
Eu já mandei carta pra professores, ihihihihihi.. de História, um da oitava série [casado e absurdamente galinha] e outro do cursinho [solteiro e assumidamente homo].. Cada missiva arrebatada!!
Depois, sem registros escritos, já na universidade, outros dois professores.
Viu como eu sou boa aluna? ;)
Michelle!!!! E eu que achava que era a única a curtir paixões platônicas por professores de História!
Acho que me tornei uma leitora voraz de livros "cabeça" apenas para impressioná-los hehehehe...
Mas nunca tive a coragem de fazer nenhuma declaração, nem por escrito.
dado que cheguei aqui, acho que sou eu...
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