Magrelo
Durante dois anos inteiros, enquanto eu lavava, triava, contava e identificava o material do meu doutorado, trabalhei sozinha numa sala do ICB que era usada meio como depósito de materiais. Ninguém nunca entrava lá e a minha companhia por dias a fio era um esqueleto humano todo montado, num canto da sala, a quem apelidei carinhosamente de Magrelo (mesmo sem saber se era homem ou mulher).
Presença silenciosa, discreta, (graças a Deus) nem um pouco amedrontador ou tétrico. Aquilo que um dia foi uma pessoa simplesmente estava lá e eu me acostumei a ele e a pensar em quem teria sido. O que ele teria visto, o que teria passado, quem o teria amado?
Há uns tempos atrás voltei àquela sala e Magrelo não estava lá. Não sei para onde o levaram. Mas fiquei absurda e surpreendentemente triste com esse desaparecimento. Como se o morto pudesse ter morrido de novo. Espero que esteja bem, onde quer que esteja.
4 Comments:
Claro que pode... mas com uma condição: que eu também lhe "linke"...
Meg, na sala em que eu estudei da 1a. a 4a. série primária (escola estadual, a mesma sala todos os anos) tinha um desses esqueletos pendurados. Mas você nem imagina o quanto ele me assombrava, tanto que não me esqueci até hoje. Beijo!
Meg, ai ai pensar nos ossos que ali estão... um dia, os nossos também estarão!
parece até meu marido...ele também se apega ás coisas. acha que tudo tem caráter e história. com certeza se ele tivesse um magrelo no atelier, iria bater "autos" papos com ele. gostei do teu blog. um abraco, lina.
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