Consumir a vida
Tradicional tema literário e artístico: a aproximação da morte.
Se em obras mais antigas o findar da existência levava a profundas reflexões íntimas e à espiritualização da mais materialista das criaturas, nas obras e filmes atuais percebe-se a tendência a que, nos últimos momentos, as pessoas necessitem viver tudo o que não viveram ao longo de vários anos. Os condenados por alguma doença fatal, ou pela velhice propriamente dita, querem viajar pelo mundo, querem conhecer todos os lugares, provar todas as comidas, fazer todas as experiências a que se recusaram ou não tiveram oportunidade, incluindo trair a esposa e infringir algumas leis.
O que me faz pensar que essa condição (o viver-tudo) para um bom morrer não deixa de ser produto da nossa sociedade moderna-ocidental-capitalista-consumista. Atualmente, para você morrer tranquilo é preciso gastar muito, consumir a vida, consumir o mundo, consumir tudo o que puder, viver tudo o que tem direito e que seu dinheiro puder comprar. E quanto mais cedo começar, melhor.
Me faz lembrar Fernando Pessoa em seu Livro do Desassossego: "Para quê quero eu ir à China, se tenho a China dentro de mim?" Quem tem vida intelectual e emocional intensas não precisa experimentar todo o cardápio da Starbucks, ou escalar o Everest, para ter certeza de que viveu bem, que lutou o bom combate.
Ou isso tudo pode ser apenas uma maneira dos pobres se consolarem por não fazer tudo o que gostariam.
:)
Se em obras mais antigas o findar da existência levava a profundas reflexões íntimas e à espiritualização da mais materialista das criaturas, nas obras e filmes atuais percebe-se a tendência a que, nos últimos momentos, as pessoas necessitem viver tudo o que não viveram ao longo de vários anos. Os condenados por alguma doença fatal, ou pela velhice propriamente dita, querem viajar pelo mundo, querem conhecer todos os lugares, provar todas as comidas, fazer todas as experiências a que se recusaram ou não tiveram oportunidade, incluindo trair a esposa e infringir algumas leis.
O que me faz pensar que essa condição (o viver-tudo) para um bom morrer não deixa de ser produto da nossa sociedade moderna-ocidental-capitalista-consumista. Atualmente, para você morrer tranquilo é preciso gastar muito, consumir a vida, consumir o mundo, consumir tudo o que puder, viver tudo o que tem direito e que seu dinheiro puder comprar. E quanto mais cedo começar, melhor.
Me faz lembrar Fernando Pessoa em seu Livro do Desassossego: "Para quê quero eu ir à China, se tenho a China dentro de mim?" Quem tem vida intelectual e emocional intensas não precisa experimentar todo o cardápio da Starbucks, ou escalar o Everest, para ter certeza de que viveu bem, que lutou o bom combate.
Ou isso tudo pode ser apenas uma maneira dos pobres se consolarem por não fazer tudo o que gostariam.
:)
5 Comments:
:) !!!
Bezzos
"But that the dread of something after death-
The undiscover'd country, from whose bourn
No traveller returns- puzzles the will,
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all"
Já disse tudo o bardo. Beijo!
Tavez seja só uma triste forma de deixar que a pressão da notícia se extravase...
Uau, Ju, fantástico! Shakespeare? Byron? Qual bardo?
Shakespeare. Hamlet, ato III, cena 1. (Daquele monólogo que começa com "To be or not to be...") Tá tudo ali, que a gente precisa.
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