Dia 20: Último livro que li
Misto Quente, do velho safad0 Bukowski. Acabei agora mesmo. Li durante a tarde, enquanto Laurinha estudava para as provas finais e eu ia fazendo paradas na leitura para tirar dúvidas e esclarecer questões. Estava até interessante: no meio de um trecho escabrosamente escatológico, eu parava para falar sobre placas tectônicas e formas de relevo...
Eu já tinha lido alguma poesia de Bukowski e achei uma boa m*rda, como o próprio autor não se furtaria a dizer. Mas este foi o primeiro dos seus romances que me chegou às mãos e gostei bastante, embora não tenha achado muito original. Quem leu um beatnik niilista, leu todos. (será?) Fiquei com a impressão que Henry Chinaski, protagonista deste livro, Neal Cassady, protagonista de On the Road do Jack Kerouac e Bandini, protagonista de Pergunte ao Pó de John Fante são todos meio parecidinhos uns com os outros em termos de personalidade. Jonh Fante, pela antiguidade, está a salvo de qualquer acusação, mas os outros... Inspiração ou imitação?
De todo o jeito, foi emprestado por um colega do Rubão e não será devolvido.
"Durante toda a minha vida, naquele bairro, eu vivi batendo em teias de aranha, fui atacado por passarinhos e tinha morado com meu pai. Tudo era eternamente triste, lúgubre e maldito. Mesmo o tempo era insolente e cachorro. Ou ficava insuportavelmente quente semanas a fio, ou então chovia e, quando chovia, chovia por cinco ou seis dias. A água subia pelos gramados e invadia as casas. Quem planejou o sistema de drenagem foi muito bem pago pela sua total ignorância sobre o assunto.
E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, apesar de nunca ser o suficiente. A bebida era a única coisa que não deixava o homem ficar se sentindo atordoado e inútil o tempo todo. Tudo mais te pinicando, te ferindo, despedaçando. E nada era interessante, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses putos pelo resto de minha vida, pensava. Deus, eles todos tinham cus, e órgãos sexuais e suas bocas e seus sovacos. Eles cagavam e tagarelavam e eram tão inertes quanto bosta de cavalo. As garotas pareciam boas à distancia, o sol provocando transparencias em seus vestidos, refletido em seus cabelos. Mas chegue perto e escute o que elas tem na cabeça sendo vomitado pelas suas bocas. Você ficava com vontade de cavar um buraco sobre um morro e ficar escondido com uma metralhadora. Certamente eu nunca seria capaz de ser feliz, de me casar, nunca poderia ter filhos. Mas que diabo, eu nem conseguia um emprego de lavador de pratos.
Talvez eu pudesse ser um ladrão de bancos. Alguma porra. Alguma coisa flamejante, com fogo. Você só tinha direito a uma tentativa. Por que ser um limpador de vidraças?"
E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, apesar de nunca ser o suficiente. A bebida era a única coisa que não deixava o homem ficar se sentindo atordoado e inútil o tempo todo. Tudo mais te pinicando, te ferindo, despedaçando. E nada era interessante, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses putos pelo resto de minha vida, pensava. Deus, eles todos tinham cus, e órgãos sexuais e suas bocas e seus sovacos. Eles cagavam e tagarelavam e eram tão inertes quanto bosta de cavalo. As garotas pareciam boas à distancia, o sol provocando transparencias em seus vestidos, refletido em seus cabelos. Mas chegue perto e escute o que elas tem na cabeça sendo vomitado pelas suas bocas. Você ficava com vontade de cavar um buraco sobre um morro e ficar escondido com uma metralhadora. Certamente eu nunca seria capaz de ser feliz, de me casar, nunca poderia ter filhos. Mas que diabo, eu nem conseguia um emprego de lavador de pratos.
Talvez eu pudesse ser um ladrão de bancos. Alguma porra. Alguma coisa flamejante, com fogo. Você só tinha direito a uma tentativa. Por que ser um limpador de vidraças?"
4 Comments:
mas o kerouac veio antes do fante? ou não?
Segundo a Wikipedia, Fante nasceu em em 1909 e publicou Pergunte ao Pó em 1939.
Já o Kerouac nasceu em 1922 e On the Road foi lançado em 1953. Bukowski é dessa mesma geração, nasceu em 1920, mas Misto-quente só foi lançado em 1982. Ambos beberam das águas, ou do uísque, de J. Fante.
Tive que interromper a leitura em virtude das outras dezessete leituras simultâneas e terminar antes do que eu.
A questão que me faço a respeito, a despeito de pouco ter lido essa patota aí, é a seguinte: quem você acha que é o sujeito que melhor escreve como se estivesse falando? E consegue as personagens mais carismáticas?
Ih, lindeza, o primeiro parágrafo saiu todo doido. Desconsidere, plis.
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