Vênus Hotentote e Mülhér Melanci@
Lá pelo início do séc XIX, um cavalheiro inglês de passagem pela África do Sul ficou muito impressionado com certa peculiaridade física de uma moça chamada Saartjie Baartan, empregada doméstica de um dos seus anfitriões.
Saartjie pertencia à tribo dos hotentotes (também conhecidos por bosquímanos) cujas mulheres apresentam com frequência uma condição denominada pela medicina de esteatopigia, que é o acúmulo excessivo de gordura na região das nádegas. Essa condição é na verdade uma adaptação evolutiva muito interessante para o estilo de vida tradicional desse povo. Eles eram nômades, viviam de caça e não praticavam a agricultura. Durante os meses de chuva alimentavam-se com fartura já que a caça era abundante e durante o longo período de seca, quando as manadas de grandes herbívoros migravam, passavam fome e tinham que se sustentar com a energia depositada no seu próprio corpo.
Saartjie foi levada para a Europa, para se apresentar em circos e feiras de variedades, junto com anões, mulheres barbadas e todo o tipo de aleijões. Segundo consta, ela não foi forçada nem obrigada. Assinou livremente um contrato (falava inglês e holandês com fluência) no qual tinha 50% de participação em tudo que ganhasse, livre de despesas. Fez muito sucesso em Londres e Paris, onde se exibia com o título de Vênus Hotentote, e ganhou bastante dinheiro, mas infelizmente não conseguiu suportar por muito tempo o rigor dos invernos europeus e faleceu (pneumonia, parece) sem voltar à sua terra natal.
Seu nome e sua aparência foram usados de mil maneiras. Para ganhar dinheiro. Para comprovar teses racistas. Para mostrar a inferioridade da mulher. Para justificar o domínio político europeu. Para aulas de anatomia. Etc.
Saartjie, numa gravura da época.
Felizmente isso tudo aconteceu há 200 anos atrás e desde então a humanidade evoluiu. Não se exibem mais corpos femininos de dimensões extravagantes em freak shows. Não tratamos mais como aberrações aqueles que são diferentes. Não se explora comercialmente, com ou sem vantagem para o interessado, características sexuais chamativas. O mau-gosto e o apelativo não mais atraem multidões.
Não é? Não é?
Aí a gente vê o sucesso midiático da Mülhér Melanci@ e de outras tais do mesmo naipe e chegamos à triste conclusão que ainda não saímos do circo. Nem da condição de palhaços.
18 Comments:
Beleza de texto, Doc. Logo se vê que o talento abunda em você.
bj
hahaha, besta, hahahha
Adorei o post Meg, perfeito. Beijos
Oi! Gostaria de te convidar pra conhecer meu blog: www.bazardaninarosa.blogspot.com
Um abraço!
Eu que nunca ouvira falar da m*lher m*lancia fiquei estarrecida. Que mau gosto explícito!
Meg, eu já tinha lido sobre essa "atração de circo" de 200 anos atrás. É triste demais ver que a gente não evoluiu foi nada, né não?
Beijo prá você.
Você iluminou a minha mente! Bem que eu achavaque já tinha visto aquela bun... em algum outro lugar.
Perfeito post.
Continua o circo de horrores.
E a mulher que colocou 3,5 LITROS de silicone em cada mama?
Como fica a questão da ética médica? A mulher ficou uma anomalia e ...continua o circo de horrores.
muito interessante, o seu artigo. infelizmente, a evolução das mentalidades é lenta, e alguns preconceitos têem a pele dura...
http://olhardeglenn.blogspot.com/
Muito interessante!
Valeu
natural não é? num mundo de adversidades, de contradições, algumas pessoas ficaram na Idade da Pedra e gostam de ostentar hoje, o que naquela Idade era bonito, hoje é falta de harmonia, contra estético. Pessoas que não evoluiram.
Na verdade pelo q me consta e a historia registra e reafirma essa mulher foi mto torturada e humilhada fisica e psicologicamente tanto q agora há um filme em sua homenagem denominado "venus negra" do diretor tunisiano Abdellatif Kechiche q mostra de forma brutal o sofrimento dessa mulher e como foi tratado como um animal por um domador d circo e o escárnio sofrido pela sociedade! Ela morreu depois d ter saído da condição de ESCRAVA e ter sido transformada involuntariamente em prostituta. Tal é a repercussão de sua historia e desrespeito sofrido que nada menos nada mais que Nelson Mandela requeriu seus restos mortais à sua terra natal para q assim uma ínfima parte da sua dignidade seja restaurada!Antes de escrever deveria ter pesquisado bem o q a historia registra já q seu texto demonstra erros pueris sobre os fatos e verdades sobre essa mulher!Um caminho fácil seria ter pesquisado no wikipedia antes de escrever, lá vc teria um breve relato porém fidedigno. Além de desrespeitar a historia de Saartjie distorcendo fatos para que assim pudesse fazer uma interface com a “mulher melancia” você dissemina mentiras!aff tsc tsc... Aline
Olá Aline,
De fato não pesquisei bem o tema, não fui à wikipédia, e nem sei se havia essa entrada quando escrevi o post em 2008, já que a data de atualização da página que lá está agora é de dois dias atrás (estamos em 04/11/2010).
Li apenas o ensaio do Stephen J. Gould e fiz uma analogia entre o sucesso atual da M. Melancia e o sucesso passado da V. hotentote. No texto do Stephen J. Gould ele não relata, talvez por desconhecimento mesmo, nenhum desses horrores.
De qualquer maneira, em nenhum momento do meu post eu distorço fatos, apenas relato o que li. Em nenhum momento eu tive a intenção de desrespeitar ou ofender a memória de ninguém. Se vc reler o post, poderá perceber que eu fiz uma crítica, não à M. Melancia, muito menos à Saartjie. Mas critico sim, a voracidade e desumanidade de uma sociedade que era e é consumista, para qual as mulheres são tão facilmente objetificadas e transformadas em atração de circo.
Quanto a disseminar mentiras, não sou jornalista, este blog não é um blog de notícias e realmente não me preocupo com a acuracidade de todas as informações que chegam a mim. O propósito do blog e desse post não ir a fundo em toda e qualquer questão, mas simplesmente escrever idéias eventuais que me vêm à mente.
Obviamente, qualquer pessoa é bem-vinda para corrigir erros e esclarecer situações que tenham me escapado.
O texto esta muito bom. Produtivo. Vejo que escreveu como um pesquisador (a), deixando que as pessoas que o visualizam passem a pesquisar mais e mais para que tirem suas conclusões. Valeu!
Estava fazendo um estudo sobre o povo Hotentote e cheguei até a este blog.
O texto muito bem escrito e bem humorado da autora fez com que eu lesse também os comentários. Alguns muito bons, mas o da Aline mostra o quanto de fato estamos atrasados no dito, comportamento social. A mocinha é simples e gratuitamente agressiva.
Fiquei imaginando aqueles que se vêem na contingência de conviver com tal pessoa. Valha me Deus!
concordo com Aline antes de escrever pesqiuse vc ser mas inteligente nos seus contos a sim vc e mais feliz e mal de histora
Anônimo que acabou de comentar,
concorde com quem quiser, mas antes de escrever, alfabetize-se.
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