Em crise
Bateu uma crise existencial braba por causa da viagem ao Jequitinhonha.
É que sempre acalmei minha consciência pequeno-burguesa com o discurso de estar trabalhando para o bem da humanidade ao me dedicar à ciência e aos recursos hídricos. Ou seja, o meu tempo, minha energia, meu conhecimento seriam sempre usados para algo que pudesse melhorar a vida dos seres humanos de forma geral; acima de interesses pessoais, acima da luta de classes, etc.
Aí de repente, eu me vi confrontada diretamente com a pergunta que o tiozinho me fez: "vai trazer melhoria pra nós?" Eu fiquei com tanta, mas tanta vergonha... Porque eu faço pesquisa e tenho bolsa paga com dinheiro público; com dinheiro dele, do tiozinho. E como é que eu vou mentir? E como é que vou dizer a verdade? Como é que vou explicar que não, no tempo que ele ainda tem de vida, não vai ver nenhuma melhoria proveniente do meu trabalho. E talvez ninguém nunca veja, porque eu, como pesquisadora, apenas forneço subsídios técnicos, em forma de dados e análises, que podem ou não vir a embasar decisões políticas que, estas sim, podem eventualmente melhorar a vida de alguém.
Mas a tomada de decisão passa por esferas muito distantes de mim. E naquele momento eu me senti tão supérflua, tão inútil. Lá estou eu ganhando muito mais do que ele (com dinheiro dele) e sem poder dar garantia nenhuma de que aquele trabalho vai servir pra alguma coisa. E toda essa discussão é muito abstrata, muito distante da realidade de quem está todo dia batendo enxada na terra dura.
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Lojistas põem na vitrine seus melhores produtos ou aqueles que têm mais saída, né?
E você vê que tem alguma coisa muito errada numa região onde as funerárias expõem na calçada preferencialmente caixõezinhos brancos de 1 metro de altura.
É que sempre acalmei minha consciência pequeno-burguesa com o discurso de estar trabalhando para o bem da humanidade ao me dedicar à ciência e aos recursos hídricos. Ou seja, o meu tempo, minha energia, meu conhecimento seriam sempre usados para algo que pudesse melhorar a vida dos seres humanos de forma geral; acima de interesses pessoais, acima da luta de classes, etc.
Aí de repente, eu me vi confrontada diretamente com a pergunta que o tiozinho me fez: "vai trazer melhoria pra nós?" Eu fiquei com tanta, mas tanta vergonha... Porque eu faço pesquisa e tenho bolsa paga com dinheiro público; com dinheiro dele, do tiozinho. E como é que eu vou mentir? E como é que vou dizer a verdade? Como é que vou explicar que não, no tempo que ele ainda tem de vida, não vai ver nenhuma melhoria proveniente do meu trabalho. E talvez ninguém nunca veja, porque eu, como pesquisadora, apenas forneço subsídios técnicos, em forma de dados e análises, que podem ou não vir a embasar decisões políticas que, estas sim, podem eventualmente melhorar a vida de alguém.
Mas a tomada de decisão passa por esferas muito distantes de mim. E naquele momento eu me senti tão supérflua, tão inútil. Lá estou eu ganhando muito mais do que ele (com dinheiro dele) e sem poder dar garantia nenhuma de que aquele trabalho vai servir pra alguma coisa. E toda essa discussão é muito abstrata, muito distante da realidade de quem está todo dia batendo enxada na terra dura.
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Lojistas põem na vitrine seus melhores produtos ou aqueles que têm mais saída, né?
E você vê que tem alguma coisa muito errada numa região onde as funerárias expõem na calçada preferencialmente caixõezinhos brancos de 1 metro de altura.
6 Comments:
Filhinha
É difícil tomar consciência de que se é apenas um dos dentes de uma rodinha pequenina de engrenagem das muitas que fazem girar a administração pública em gov/mg.br
No entanto ter essa consciência e continuar fazendo tudo bem feito, o melhor que se pode, é heróico.
Não és lá muito diferente do tiozinho: és "mal e porcamente" paga, não recebes a contrapartida dos impostos que pagas, não tens segurança nas ruas, saúde e escola pública gratuitas e de qualidade... Como ele vives à espera que venha a haver alguma melhoria na tua vida.
Como há 30 e tal anos eu também estou esperando e cantando o Pedro-pedreiro, para espairecer.
No meu tempo de vida não vai haver melhoria nenhuma, já percebi.
Consolo-me com o meu heroísmo anônimo.
Grande, mãe de Meg !!!!
Perdoe-me mas não guardei seu nome e me impressinou tanto quando te conheci.Pela jovialidade, beleza, inteligência e por pensar como meu companheiro( e se vestir como uma européia, é claro).Faço coro às palavras da Fefê:- Grande, mãe da Meg!
Caramba, essa observação dos caixõezinhos é de fazer chorar... Eu amo seu blog, Meg. Tô sempre por aqui, em leituras dinâmicas e sem deixar rastros... Ó, já fiz um blog novo. O endereço é www.depoisdeser.blogspot.com
Beijo
Meg, sua mãe disse tudo!
Ainda bem que existem pessoas como vc, que se empenham em fazer o bem. Bjs
Ai Meg... que triste... vamos tomar a cachaça agora... pra afundar as mágoas???
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