Soturna, sorumbática, depressiva
Morreu uma estagiária aqui do departamento. A menina tinha só 21 anos, ia formar no final deste ano. Bonita, inteligente, sorridente. Teve uma apendicite, foi operar, e deu mil e uma complicações na cirurgia, parada cardíaca, essas coisas. Apendicite. Milhares de apêndices são tirados todos os dias, uma coisa quase banal. Mas ela morreu. E nos últimos dias eu não consigo parar de pensar nessa morte. Vou tomar uma cerveja e penso: "eu aqui toda tranquila, tomando uma cervejinha e ela tá lá, enterrada". Vou reclamar do filme ruim e penso: "eu aqui reclamando de bobagem e a moça morta e a família em desespero". A morte de qualquer conhecido me deixa estupefacta: Morreu como, se ainda outro dia tava viva?! E me põe em perspectiva: perante a morte, qualquer fato da vida me parece sem a menor importância.
Lamento por ela, por todas as coisa que não teve tempo de realizar: ter o primeiro emprego, o orgulho de ganhar o próprio sustento, a excitação de montar a própria casa, a alegria de um filho, o estranhamento dos primeiros fios brancos no cabelo.
Mas a dor e a tristeza me vêm de pensar em seus pais. Perder um filho que acaba de se tornar adulto, quando se pensava já ter passado a época dos maiores riscos e perigos, quando se imaginava que todo o investimento emocional/físico/material ia finalmente dar retorno na forma da felicidade de ver sua cria poderosa e independente. E a filha se vai, assim, por uma coisa quase banal. Eu queria realmente acreditar em deus numas horas dessas...
Lamento por ela, por todas as coisa que não teve tempo de realizar: ter o primeiro emprego, o orgulho de ganhar o próprio sustento, a excitação de montar a própria casa, a alegria de um filho, o estranhamento dos primeiros fios brancos no cabelo.
Mas a dor e a tristeza me vêm de pensar em seus pais. Perder um filho que acaba de se tornar adulto, quando se pensava já ter passado a época dos maiores riscos e perigos, quando se imaginava que todo o investimento emocional/físico/material ia finalmente dar retorno na forma da felicidade de ver sua cria poderosa e independente. E a filha se vai, assim, por uma coisa quase banal. Eu queria realmente acreditar em deus numas horas dessas...
8 Comments:
'A morte de qualquer conhecido me deixa estupefacta: Morreu como, se ainda outro dia tava viva?!'
Menina, eu tenho esse mesmo espanto. Acho que é uma dúvida quase metafísica: como iremos morrer, se estamos tão vivos?
Bjs
Tbm penso assim. Fico enfurecida com certas coisas da vida.
Sinto muito.
Ah, não tem e-mail teu aí do lado pra eu poder comentar umas coisas que você me fez pensar/lembrar. Nhé.
Tina,
é: mmarques(arroba)icb.ufmg.br
bjok
De apendicite? Quase inacreditável...E com 21 anos é triste demais.
Beijo,
Fefê
Nossa, soco no estômago. Tb fico me sentindo assim....
Bjo
Meg, eu encaro a morte como uma parte natural da vida. A certeza que todo mundo vai enfrentar, mesmo!
Ultimamente tenho feito a opção de encarar bem de frente essa perspectiva, até para minimizar o sofrimento que ela traz.
Mas acho que o que pega mais, nessa questão, não é a morte em sim, mas a brevidade de uma vida. Se a morte vem no fim de uma existência, porque alguns existem só por um curto espaço de tempo?
Como dizia meu pai (que já se foi...): "pra morrer, basta estar vivo". Dia desses entrevistei um ex-professor de Filosofia, que escreveu um livro sobre a morte. Ele fez um comentário interessante: a morte é a coisa mais certa da vida, mas é uma verdade incerta; sabemos que ela é certa, mas dela não sabemos nada ao certo...
Você tem um jeito muito especial de falar sobre as coisas.
Beijo
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