Filosofia de butiquim
Kierkegaard, pobre coitado existencialista precoce do séc XIX, dizia que existiam três estágios diferenciados na vida humana.
O primeiro era o estágio estético, em que a principal motivação era a busca do prazer, da beleza, da diversão, da satisfação. Segundo ele a maioria das mulheres não ultrapassava esse estágio permanecendo nele como eternas crianças.
O segundo era o estágio ético ou moral, em que a motivação era o ideal moral: a busca do bem, do correto, do virtuoso, da verdade, do certo. A maioria dos homens, ao chegar à idade madura (que eu acho que é algo entre os 25 e os 60 anos), viveria esse estágio plenamente.
O terceiro, que poucos seres elevados conseguiriam alcançar, era o estágio religioso ou espiritual, no qual a moral seria substituída por um valor maior e absoluto: o amor. Amor a tudo: à humanidade, à existência, ao próximo, ao trabalho, a Deus, etc.
Ao amar, ninguém precisaria se preocupar nem com o prazer , já que o amor em si mesmo seria a base de todo o contentamento e felicidade, nem com a moral, já que ao amar de maneira absoluta (sem egoísmo, sem ciúme, sem necessidade de auto-satisfação) tudo o que se faz, o que se diz, o que se vive, é absolutamente correto. Já dizia Sto. Agostinho: “Ama e faz o que quiseres.”
Eu já descarto o estágio religioso, por impossível. Teríamos que ser todos zen-budistas para conseguirmos amar de uma tal forma perfeita, sem desejos. Ou talvez seja possível amar apenas algumas coisas assim: nossos filhos, alguns amigos. A eles basta existir para nos fazerem felizes. Do resto sempre se espera alguma coisa em troca: do homem ao meu lado eu espero reciprocidade, da sociedade em geral eu espero respeito, reconhecimento, etc.
Aí comparo o estágio estético com o moral. Acho que só mudam os objetos; o sentimento íntimo mantém-se o mesmo (e não é ele que importa?). Assim, se antes eu me envaidecia por me acharem bonita, agora me envaideço por me elogiarem um trabalho publicado. Se antes eu me deliciava com uma caixa de chocolates, agora me delicio com um pacote de realizações profissionais e pessoais. Se antes eu me emocionava com um filme ou uma música, cujos prazeres sensoriais me atingiam em cheio; agora eu me emociono com realidades que não me atingem os sentidos diretamente, mas me enchem de prazer e alegria: a conservação da natureza, oportunidades para comunidades carentes, etc.
Fico na sincera dúvida se evoluí de um estágio para outro ou se estou estagnada, mudando apenas os objetos que dão prazer. Ou se tudo é apenas viagem do infeliz do Kierkegaard, só pra me deixar confusa!
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Eu tenho um sério problema com filósofos: sempre concordo com o último que leio. Já idolatrei Nietzch, para logo em seguida achá-lo uma besta, influenciada por não-sei-mais-quem. Eu tenho personalidade fraquíssima e uma grande pobreza de argumentos. E esses caras são especialmente treinados para me convencer de qualquer coisa.
Ai, que falta me fazem alguns dogmas na vida!
O primeiro era o estágio estético, em que a principal motivação era a busca do prazer, da beleza, da diversão, da satisfação. Segundo ele a maioria das mulheres não ultrapassava esse estágio permanecendo nele como eternas crianças.
O segundo era o estágio ético ou moral, em que a motivação era o ideal moral: a busca do bem, do correto, do virtuoso, da verdade, do certo. A maioria dos homens, ao chegar à idade madura (que eu acho que é algo entre os 25 e os 60 anos), viveria esse estágio plenamente.
O terceiro, que poucos seres elevados conseguiriam alcançar, era o estágio religioso ou espiritual, no qual a moral seria substituída por um valor maior e absoluto: o amor. Amor a tudo: à humanidade, à existência, ao próximo, ao trabalho, a Deus, etc.
Ao amar, ninguém precisaria se preocupar nem com o prazer , já que o amor em si mesmo seria a base de todo o contentamento e felicidade, nem com a moral, já que ao amar de maneira absoluta (sem egoísmo, sem ciúme, sem necessidade de auto-satisfação) tudo o que se faz, o que se diz, o que se vive, é absolutamente correto. Já dizia Sto. Agostinho: “Ama e faz o que quiseres.”
Eu já descarto o estágio religioso, por impossível. Teríamos que ser todos zen-budistas para conseguirmos amar de uma tal forma perfeita, sem desejos. Ou talvez seja possível amar apenas algumas coisas assim: nossos filhos, alguns amigos. A eles basta existir para nos fazerem felizes. Do resto sempre se espera alguma coisa em troca: do homem ao meu lado eu espero reciprocidade, da sociedade em geral eu espero respeito, reconhecimento, etc.
Aí comparo o estágio estético com o moral. Acho que só mudam os objetos; o sentimento íntimo mantém-se o mesmo (e não é ele que importa?). Assim, se antes eu me envaidecia por me acharem bonita, agora me envaideço por me elogiarem um trabalho publicado. Se antes eu me deliciava com uma caixa de chocolates, agora me delicio com um pacote de realizações profissionais e pessoais. Se antes eu me emocionava com um filme ou uma música, cujos prazeres sensoriais me atingiam em cheio; agora eu me emociono com realidades que não me atingem os sentidos diretamente, mas me enchem de prazer e alegria: a conservação da natureza, oportunidades para comunidades carentes, etc.
Fico na sincera dúvida se evoluí de um estágio para outro ou se estou estagnada, mudando apenas os objetos que dão prazer. Ou se tudo é apenas viagem do infeliz do Kierkegaard, só pra me deixar confusa!
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Eu tenho um sério problema com filósofos: sempre concordo com o último que leio. Já idolatrei Nietzch, para logo em seguida achá-lo uma besta, influenciada por não-sei-mais-quem. Eu tenho personalidade fraquíssima e uma grande pobreza de argumentos. E esses caras são especialmente treinados para me convencer de qualquer coisa.
Ai, que falta me fazem alguns dogmas na vida!
1 Comments:
Oi Meg,
Talvez não te faltem dogmas, eles, em geral, são muito preejudiciais e agressivos. A realidade impositiva da metafisica restringe e mata a multiplicidade.
Talvez o maior espírito da filosofia, que muitos teimam em desconciderar, é a capacidade de contrapor e conversar com diversos pensamentos. isso só é possível quando se está aberto para ouvir o outro. Talvez vc só esteja aberta demais, rsrsrsrsrs.
Você diz: "Esses caras são especialmente treinados para me convencer de qualquer coisa", acho mais que qualquer um está especialmente predisposta a se convencer do que diz qualquer um desses cara que estão a no minimo uma vida de distância.
Primeira visita ao seu blog, não te conheço e nunca te vi, mas gostei daqui. Acho que vou ficar.
Até a próxima visita.
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