Mesa de Bar

Lugar pra se falar sobre tudo e sobre o nada.

Minha foto
Nome:
Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Indignação com educação.

A mais nova ouve a chamada do J0rnal Naci0nal, onde se anuncia a terrível notícia dos sem-teto queimados vivos. Ela fica chocada:

-Mamãe, quem queimou os pobrezinhos? Eles morreram? Por que fizeram isso?

Dou um pequena explicação sociológica sobre intolerância e violência urbana, o que a deixa ainda mais revoltada:

-Mas mamãe, as pessoas que fizeram isso são muito más, essas pessoas são muito preconceituosas, essas pessoas são muito... são muito.... são muito... palavrões! Né, mãe? Só palavrões pra dizer o que essas pessoas são!

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Escrevi isto para o Rubão, quando fiquei grávida em 2010:


"Nosso filho.
Vamos ter um filho, meu bem.
De mim e de você, um novo nós surgirá, cheio de seus próprios milagres, mistérios e certezas.
E com ele, nós dois renasceremos. Seremos outros, com o outro.
E sei que ele, nosso filho, nos fará outros melhores, mais certos, mais amantes, mais corajosos, mais sorrisos.
Daquilo que eu sou e você é, virá alguém que nos ensinará de fato o que sempre soubemos: que amar não tem medidas, não tem limites, não tem fronteiras, não tem data de validade, não tem prazo a vencer.
Da minha essência e da sua, emergirá um amor tão maior do que nos supunhamos capazes que irá nos transformar para sempre em seres tão mais plenos do que supunhamos possível.

Te amo muito agora, e te amarei cada vez mais, à medida do nosso filho."




Nosso filho não veio, nosso filho não vingou. Mas nos amamos cada vez mais, à medida da saudade pelo filho que não nasceu.

E penso naqueles que vão ter filhos em breve e não percebem nesse milagre motivo maior e fundamental para mais serem felizes, mais se quererem, mais se unirem, mais se comemorarem um ao outro, mais crescerem em amor e entedimento. Penso no quanto a vida sabe ser injusta.

Coração Partido

Não o meu. Mas dói em mim também. Bastante.
Só consigo lembrar de Vinícius que explicou bem o que acontece num caso desses:

"De repente do riso fez-se o pranto
De repente da calma fez-se o vento
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante"

Como pode? Como pôde?

Para acalmar os curiosos ou preocupados: eu e Boêmio estamos ótimos juntos.
Mas muito tristes.

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

No carnaval, em João Pessoa.

João Pessoa, com a graça de Deus, não tem carnaval no Carnaval. Não tem multidões enlouquecidas de cerveja e música ruim pelas ruas. Não tem trio elétrico, cheiro de urina, bagunça. Quem é de lá, e gosta de carnaval, comemora uma semana antes, num carnaval temporão, e vai depois fazer estripulia nas capitais vizinhas: Recife, Natal, etc.

Nós fugimos da folia e queríamos ficar mais quietos, ir para a praia, dormir depois do almoço, ter paz e tranquilidade. Alugamos um apartamento e:

-comemos muito camarão, charque, carne de sol, feijão de corda, pitomba, rubacão, arrumadinho, tapiocas doces e salgadas, litros de água de côco e mais ainda de cerveja;

(Rubacão, um cozido de arroz e feijão de corda, tipo baião-de-dois, com carne de sol ou charque ou camarão)

(tapioca, uma panqueca crocante de farinha de mandioca com recheios variados)

-fomos à praia todos os dias;

(Praia de Tambaú, em João Pessoa)

-fizemos um passeio de barco até umas piscinas naturais de coral em Picãozinho, passeio este que não recomendamos (meio farofa, piscinão de Ramos style);

(Picãozinho, próximo à praia de Tambaú)

-estivemos em Ponta do Seixas, o ponto mais oriental das Américas;

(o farol de Ponta do Seixas)

-praticamos naturismo em Tambaba (!!!!);

(Praia de Tambaba, uma quebrada longe da cidade, onde só se entra pelado)

-conhecemos o centro histórico da terceira capital mais antiga do país;


-e a Estação Ciência, Cultura e Artes do Niemeyer, onde havia uma série de exposições permanentes ou temporárias;


-paparicamos, beijocamos e brincamos muito com o Pedrinho, sobrinhozinho mais delícia do mundo;

-não tiramos fotos. Eu esqueci o carregador de bateria da minha máquina e só lá me dei conta de que estava totalmente descarregada. Paciência. Uma amiga tirou umas pouquinhas fotos e vai nos mandar. Mostro depois, só pra comprovar que realmente lá estivemos.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Lá vai a vida

A minha menina virou moça neste fim de semana.
Sem susto, já tava tudo explicadinho e preparadinho.
Não tenho mais duas crianças em casa. Mãe de adolescente, eu.
Um certo orgulho, uma certa melancolia.

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Dia 22: Livro preferido que li para a escola

Eu diria que Exodus do Leon Uris, do qual já falei neste meme, foi o melhor que li para a escola. Mas não quero me repetir, então deixa escolher outro:

O Grande Mentecapto, de Fernando Sabino; pau-a-pau com O Encontro Marcado, do mesmo autor. Ambos lidos para a escola.


É preciso dizer que Fernando Sabino era uma espécie de herói literário em Belo Horizonte nos anos 80 da minha adolescência, época em que o autor estava no auge. Ele tinha nascido nesta mesma roça iluminada, e tinha conquistado fama, respeito, consideração. Era lido no país todo e traduzido em muitas línguas. Ele era relativamente próximo a nós, todo mundo tinha algum amigo ou conhecido aparentado com ele. Eu tinha uma colega de sala que era sobrinha dele.

Era muito, muito simpático ler em seus livros descrições de lugares belorizontinos que nós conhecíamos e frequentávamos. E a leitura era leve, engraçada. Li muita coisa dele durante a adolescência e simplesmente adorava.

Quanto ao Viramundo, protagonista do livro, ficou marcado para mim como uma espécie de Macunaíma, de Dom Quixote, de Malasartes, de João Grilo e Chicó, de um anti-herói por quem não é possível deixar de ter respeito e simpatia embora quase nenhuma identificação. Vagabundo, andarilho, bom coração, cheio de malícia e esperteza. Personagem pra não se esquecer jamais. E se já não lembro dos detalhes das suas "aventuras e desventuras", me recordo perfeitamente bem da sensação de hilariedade misturada a melancolia que a história me provocava.


Ao dar entrada em sua nova residência, Geraldo Viramundo foi levado diretamente ao gabinete do diretor, um velhinho de cabeça branca e olhos azuis que atendia pelo nome de Dr. Pantaleão.
- Você o que é, meu filho? – perguntou o Dr. Pantaleão.
- Sou cristão pela graça de Deus – respondeu Viramundo.
- Isso! Assim é que serve. Esse pelo menos fala. Cada doido com sua mania. De médico e louco todos temos um pouco. Eu estou perguntando qual é a sua encarnação.
Antes que Viramundo pensasse em responder, Dr. Pantaleão disparava a falar , muito depressinha:
- Napoleão ainda temos uns três ou quatro. Já tivemos uma porção. Nunca tivemos é um papa, mas santos temos vários. Temos também um que é grão de milho, não pode ver uma galinha, foge correndo. E tem outro que é justamente galinha, vive a perseguir o pobre do grão de milho, cacarejando. Tem um que é cafeteira: passa o dia inteiro com um braço na cintura e outro para cima, mas não serve café a ninguém, acho que está vazia. Tem de tudo. Dom Pedro temos dois. Pedro Segundo, digo. Não sei por que, mas Pedro Primeiro nunca mais apareceu. O último que tivemos, já faz tempo, morreu de tanto grito do Ipiranga que ele dava, proclamando a independência. Independência ou morte! Independência ou morte! Independência ou morte! Ficava assim o tempo todo, montado numa vassoura. Você o que é?
- Eu sou mais eu – respondeu Viramundo prontamente.
- Não pode. Se você fosse mais você, não estaria aqui. Você é menos você, isso sim. E noves fora, zero. Se eu fosse você, seria alguém mais, não seria eu. Portanto você tem que ser alguém. Basta escolher. Só não escolha Tiradentes, que você pode se dar mal. Já tivemos um, e acabaram enforcando o coitado. Foi preciso que Caxias, o pacificador, viesse botar ordem nesta joça, que isto aqui estava uma verdadeira loucura. Se é que você me permite essa redundância, hi! hi! hi! Todo mundo aqui dentro tem de ser alguém ou alguma coisa. Você o que é?
Sem esperar resposta, o Dr. Pantaleão se aproximou dele e continuou a falar, baixando a voz e com um brilho de esperteza nos olhinhos:
- Vou lhe dar um conselho: seja coisa, não seja gente. Coisa é muito melhor. Uma coisa bem macia, bem leve, bem fofa... Uma nuvem, por exemplo. Eu vou lhe contar um segredo, peço que não conte para ninguém. Quando vim para cá, minha intenção era ser uma nuvem, mas não pude, porque tinha de andar pelado, o que era incompatível com a minha condição de diretor. E você já imaginou uma nuvem de calças? Hi! hi! hi!
- Vladimir Maiakovski – exclamou Viramundo solenemente.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Dia 21: O melhor livro que li este ano (2012)

O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco.





O livro já é antiguinho, foi lançado em 1988, o que significa um certo atraso da minha parte. Mas como estou esperando minha mãe terminar o último lançamento do mesmo autor (O cemitério de Praga), resolvi voltar no tempo e ler finalmente a única obra de ficção de U. Eco que me escapava.

Com exceção d'A Misteriosa Chama da Rainha Loana, que é mais ou menos, toda a ficção de U. Eco é excelente. Escreve excepcionalmente bem; inventa enredos complicados, mas envolventes e divertidos; cria personagens adoráveis e destila erudição. Como diria Nelson Rodrigues (o escritor, não o meu cãozinho): " pinga gênio em cada frase".

Sociedades fechadas e seus segredos são quase uma obsessão para Eco. Neste romance, os templários, os maçons, os rosacruzes, os jesuítas, as religiões obscuras, os alquimistas, os esotéricos, os cabalistas; toda essa gente é jogada num mesmo caldeirão onde se forja uma gigantesca Teoria da Conspiração: um jogo criado por três colegas de trabalho de uma editora picareta para espantar o tédio. E com a ajuda de uma grande novidade da época: um computador pessoal capaz de fazer conexões aleatórias entre quaisquer fatos!

Eco tira um grande sarro de todas as organizações e pessoas que se levam realmente a sério, de tudo e todos o que se propõem, de antemão, a "mudar o mundo". Grandes mistérios e segredos e toda a mixórdia ocultista são apresentados como bons motivos para dar gargalhadas.

Há no livro uma antecipação de Dan Brown, mas com a diferença fundamental: enquanto D. Brown meio que leva a sério a gororoba cultural que descreve, U. Eco dá risada apresentando o lado grotesco da nossa sede pelo não-revelado.