Xingar com estilo
Meu bisavô Inácio, português do Alentejo, era republicano e anti-clericalista, numa época em que ainda havia monarquia e a Igreja se imiscuía em todos os assuntos do Estado. Quando ele queria ofender muito alguém, insultar mesmo, o pior dos seus xingamentos era: “Jesuíta”.
Ontem, assisti um pedaço de uma briga de trânsito. Um troglodita dizia grosserias a uma senhora. Ela, fina, agiu como uma dama. Sem se alterar, disse apenas:
- O senhor é um péssimo.
Um péssimo. Resolvi adotar. Quem me irritar agora vai ouvir: “Seu péssimo!”
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Assisti recentemente:
“Jules et Jim” do Truffaut.
Não gostei muito, mas rendeu discussões acaloradas e instigantes, e disso eu gosto.
“Outubro” do Eisenstein.
Filme sem protagonistas, como só os grandes mestres de antigamente sabiam fazer. Gostei muito, gosto cada vez mais dele. Já gostava desde a adolescência, de quando vi o “Encouraçado Potenkin”. E não estou me contendo de ansiedade para assistir “Ivan, o terrível”. As sombras mais maravilhosas da sétima arte.
“O Tempo que Resta”
Triiiiiste, chaaaato... Mas valeu ver de novo a Jeanne Moreau, agora velhinha. Participação pequena, mas de uma grande atriz. Agora, o excesso de plástica e de silicone é mesmo mau negócio pra quem quer atuar até a velhice.
“Meu irmão quer se matar”
Não formei opinião. Não sei se gostei ou não. Acho que o objetivo era esse mesmo, fomentar a apatia das pessoas diante de dramas que não se tornaram dramáticos. Todo mundo cinzento. Colorida, só a enfermeira maluquete, que para mim era a mais normal do filme inteiro.
“Mais estranho que a ficção”.
Muito legal! Roteiro sensacional, história super criativa e original. O roteirista, Zach Helm, faz parte da escola de outros caras fantásticos como o Charlie Kaufmann, de "Quero ser Jonh Malkovich" e "Adaptação". É uma miscelânea de formas narrativas diversas, muita metalinguagem e comédia inteligente. Uma farsa, no sentido literário do termo. O final feliz é meio bobo e banal, mas tudo bem, o outro final alternativo também seria banal.
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Cafés dentro do cinema são um perigo. A gente fica lá na mesa, capuccino gostoso, conversa fiada e animada, e quando vê as horas:
- O filme já começou! Vamos lá!
Aí todo mundo corre pra sala e o garçon corre atrás, com a notinha na mão:
- A conta, a conta...
Horror, vergonha, vexame. Já por duas vezes passei por caloteira nos cinemas de BH.
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Estou lendo “Diálogo em Setembro” do português Fernando Namora. Trata dos Encontros Literários de Genebra. Não me agrada o estilo do autor, mas os debates e as idéias são interessantes, embora, por causa do distanciamento no tempo, para nós leitores do séc XXI, eles estejam batendo em cachorro morto.
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Pra quê luz no fim do túnel se o que se quer mesmo é fechar os olhos?