Mesa de Bar

Lugar pra se falar sobre tudo e sobre o nada.

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Sóbria, a maior parte do tempo. Na mesa de um bar me torno mais corajosa, mais sensível, mais emotiva, mais generosa. No bar e com umas cervejas a mais, as dúvidas se dissipam, as certezas afloram, as tristezas caem fora e a alegria reina. Sim, na mesa de um bar eu sou uma pessoa melhor do que fora dela.

segunda-feira, outubro 31, 2011

Dia 09: O livro mais triste que já li

Obviamente, não se pode repetir o mesmo livro neste meme, senão eu diria que o Rosinha, minha canoa continua sendo, na minha memória sentimental, o mais triste de todos. Crianças sofrendo me comovem profundamente, então também podemos citar aqui o Meu Pé de Laranja Lima, do mesmo autor, ou O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini, ou todos os do Charles Dickens.


Mas há um conto da Katherine Mansfield que vale a pena recomendar e que, embora não me tenha feito chorar, me encheu de uma tristeza duradoura e opressiva. A Casa de Bonecas é uma pequenina obra-prima, tão cheia de sarcasmo e ironia quanto de compaixão e ternura doídas. E, sim, há crianças sofrendo.




Os contos de K. Mansfield são quase sempre pequenos. Ela se detém em instantes mínimos e extremamente intensos. Ela expõe a maldade que pode haver em qualquer pessoa, sem poupar seus personagens nem seus leitores. Ela denuncia a amargura em quem se pretende feliz. Ela é capaz de nos deixar com a garganta travada em um belo dia de sol. Ela é terrível. E, por isso mesmo, muito boa escritora.



"Muitas meninas, incluindo as Burnells, não tinham permissão nem de conversar com elas. Passavam pelas Kelveys com o nariz empinado e, como eram elas que estabeleciam os parâmetros no que se referia a padrões de comportamento, as Kelveys eram repelidas por todo mundo. Até mesmo a professora se dirigia a elas com uma entonação especial e reservava um sorriso diferente para as outras meninas quando Lil Kelvey se aproximava de sua mesa com um ramalhete de flores de aparência lastimavelmente vulgar. Elas eram filhas de uma lavadeira muito enérgica e trabalhadora, que durante o dia ia de casa em casa. Só isso já era terrível. Mas onde estava o sr. Kelvey? Ninguém sabia com certeza. Mas todo mundo dizia que estava preso. Assim, elas eram filhas de uma lavadeira e de um presidiário. Que bela companhia para as outras meninas! Sem falar na aparência.


...


Mas qualquer coisa que a nossa Else vestisse ficaria estranho. Era uma pequerrucha com o cabelo cortado rente, de olhos enormes e solenes – uma corujinha branca. Ninguém nunca a tinha visto sorrir; ela quase nunca falava. Vivia agarrada em Lil, segurando firme na barra da saia da irmã. Onde Lil ia, Else ia atrás. No recreio, na estrada que ia e vinha da escola, Lil ia na frente e Else vinha atrás, grudada nela. Somente quando queria algo ou quando perdia o fôlego, a nossa Else dava um puxão e Lil parava e se virava. As meninas Kelvey sempre se entendiam."

domingo, outubro 30, 2011

Dia 08: O livro mais assustador que já li

Um livro assustador, deixa ver... um livro assustador...

O tipo de livro capaz de me assustar é aquele que contém informações provenientes de fontes confiáveis que me fazem vislumbrar um futuro nada ameno ou aprazível. Terror futurista, não-ficção, baseado em fatos (e dados) reais. Nessa linha, um livro que me assustou muito foi Água, do jornalista canadense Marq de Villiers, que li durante o mestrado.


Ao longo de trinta anos de atividade profissional em jornais e revistas internacionais, o autor foi pesquisando e se aprofundando no tema, o que acabou resultando no livro, dividido em capítulos que focam ciclos hidrológicos naturais e alterados pelas atividades econômicas humanas, estudos de caso e a política da água.

Sem tons catastróficos, mas com muita objetividade, ele mostra como e porque os recursos hídricos do planeta estão em crise e como a tendência dessa crise é se agravar. Não é um livro científico, a escrita é voltada para o público leigo, clara, fácil e acessível. Pode-se dizer que é um livro de divulgação científica, já que recorre sempre a dados de instituições de pesquisa, órgãos oficiais de governos e agências variadas, como FAO e UNESCO.

Além da descrição da situação mundial atual (por atual, leiam 1999, quando foi lançado), o autor adota uma abordagem histórica, comparando a evolução da disponibilidade quantitativa e qualitativa da água em vários locais do mundo. Ao final, a mensagem é clara: quem não está assustado é porque não anda prestando atenção.

"....Desta forma podemos chegar, finalmente, ao estoque de água doce utilizável pela comunidade humana: algo em torno de 34 mil quilômetros cúbicos por ano. Os seres humanos já estão usando mais de metade disto: 35% para a irrigação, a indústria e o consumo domiciliar, e outros 19% para atender às necessidades correntes. Isto soa como se houvesse um volume de sobra, mas a outra metade é mais difícil, e mais cara, de ser adquirida. Todos os aquiferos mais simples já foram drenados e os rios mais fáceis represados. A população continua crescendo a taxas alarmantes. Os custos ecológicos da utilização da água tornaram-se mais que evidentes. A demanda de água triplicou entre 1950 e 1990 e espera-se que dobre outra vez nos próximos 35 anos. De onde virá esta água? A escassez está mais próxima do que pode parecer."

sábado, outubro 29, 2011

Dia 07: Um livro que odiei mas tive que ler para a escola

Não lembro de ter odiado nenhum livro que li para a escola. Nos verdes anos de escola, eu gostava de todos os livros que lia. Gostava mais de alguns e menos de outros, mas sempre gostava. O que eu não gostava é que a escola muitas vezes indicava a versão condensada de livros clássicos e não a versão integral, como se fossêmos burrinhos demais para ler qualquer coisa com mais de duzentas páginas ou com um vocabulário mais refinado. A editora Ediouro era quem normalmente fazia o desfavor de traduzir, condensar e, frequentemente, RECONTAR a história, portanto empobrecendo sobremaneira, o melhor da literatura mundial. Foi assim com Winnetou, de Karl May (que eu adorei); com Sem Nome e Sem Ninguém, de Gene Stratton-Porter; com A Cabana do Pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe; entre outros.

O resultado disso é que depois de ler a versão recomendada pela escola, eu tinha que ir à biblioteca, ou à casa de alguém, e buscar a versão verdadeira, pois sabia que o que tinha lido era uma coisa pasteurizada, homogeneizada e sem sal.

E foi assim, recontado e requentado, que li pela primeira vez o Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Bronte. Não cheguei a odiar, mas também não achei grande coisa. E, verdade seja dita, também não achei a versão integral, da autora, tão fantástica assim.


"Minha caminhada até Thrushcross Grange foi interrompida por uma visita ao cemitério da igreja. Descobri sem dificuldade as três lápides. A do meio era cinzenta, e aparecia em meio às urzes. A grama cobria a de Edgar Linton. A de Heathcliff era inteiramente visível à luz da Lua. Demorei-me um pouco contemplando-as, sob a suave claridade do céu. Ouvi perpassar de leve o vento, e fiquei pensando como poderia alguém imaginar um sono inquieto para aqueles ali que dormiam sob a terra imóvel."

sexta-feira, outubro 28, 2011

Dia 06: Um livro do meu autor favorito

Tão difícil quanto escolher um livro favorito é escolher um autor. Não tenho um autor, e sim vários que vão se sucedendo em ordem de importância de acordo com o momento, o humor, a memória e o clima. Mas Jorge Luís Borges sempre está na lista, independente de qualquer fator.

Não vou citar os já tão celebrados O Aleph, Ficções ou O Livro de Areia. Vou apenas chamar a atenção para a delícia que é ler Borges comentando sobre outros livros e autores que o agradaram, como no excelente "Prólogos, com um Prólogo de Prólogos".


O livro é uma coletânea de prólogos que Borges escreveu ao longo de sua extensa vida a convite de várias editoras argentinas para abrilhantar cada lançamento, ou nova edição, de um livro julgado importante. Jogada de marketing, sem dúvida. Mas não pode haver melhor propaganda do que chamar o maior escritor do país (e do mundo, para muitos) para escrever sobre o livro que se quer vender.

Os prólogos de Borges são muito mais do que simples apresentações do texto a ser lido. São pequenos ensaios críticos, reflexões sobre o autor, a obra, a época, o contexto histórico, etc. E são maravilhosamente bem escritos, como sói acontecer com tudo o que ele escreveu.

Impressiona, como sempre, a incrível erudição enciclopédica e o seu ecletismo literário. Borges não se recusa a nada e é capaz de encontrar e fruir qualquer coisa de bom que alguém haja escrito, mesmo que um único verso num livro inteiro de poesia canhestra. Dos poetas gauchescos, a Cervantes, Allan Poe, Lewis Carroll, Gibbon, Kafka, nada escapa.

Eu, que adoro falar de livros, acho irresistível a sua prosa e fico mortinha de vontade de ler tudo o que ele leu. Aqui vai um gostinho, tirado do prólogo do Prólogos, com um Prólogo de Prólogos. (que coisa mais borgiana!)

"Que eu saiba, ninguém formulou até agora uma teoria do prólogo. A omissão não nos deve afligir, já que todos sabemos do que se trata. O prólogo, na triste maioria dos casos, confina com a oratória de sobremesa ou com os panegíricos fúnebres e é pródigo em hipérboles irresponsáveis, que a leitura incrédula aceita como convenções do gênero. Há outros exemplos — recordemos o memorável estudo que Wordsworth prefixou à segunda edição de suas Lyrical Ballads — que enunciam e defendem uma estética. O prefácio comovido e lacônico dos ensaios de Montaigne não é a página menos admirável de seu livro admirável. O de muitas obras que o tempo não quis esquecer é parte inseparável do texto. Em As mil e uma noites — ou, como quer Burton, em O livro das mil noites e uma noite —, a fábula inicial do rei que faz decapitar sua rainha toda manhã não é menos prodigiosa que as seguintes; o desfile dos peregrinos que irão narrar, em sua cavalgada piedosa, os heterogêneos Contos de Canterbury foi considerado por muitos o relato mais vívido do volume. Nos palcos elisabetanos, o prólogo era o ator que proclamava o tema do drama. Não sei se é lícito mencionar as invocações rituais da epopeia: o Arma virumque cano, que Camões repetiu com tanta felicidade:

As Armas e os Barões assinalados...

O prólogo, quando os astros são favoráveis, não é uma forma subalterna do brinde; é uma espécie lateral da crítica. Não sei que julgamento favorável ou adverso merecerão os meus, que abarcam tantas opiniões e tantos anos.
A revisão destas páginas esquecidas sugeriu-me o plano
de outro livro, mais original e melhor, que ofereço aos que
desejarem executá-lo. Penso que exige mãos mais destras e
uma tenacidade que já me abandonou. Carlyle, pelos anos
de mil oitocentos e trinta e tantos, simulou, em seu Sartor
Resartus, que certo professor alemão tinha dado à estampa
um douto volume sobre a filosofia da roupa, e traduziu-o
parcialmente e o comentou, não sem algum reparo. O
livro que estou entrevendo é de índole análoga. Constaria
de uma série de prólogos de livros que não existem. Seria
pródigo em citações exemplares dessas obras possíveis. Há
argumentos que se prestam menos à escrita laboriosa que
aos ócios da imaginação ou ao indulgente diálogo; tais argumentos seriam a impalpável substância dessas páginas,
que não serão escritas. Prologaríamos, talvez, um Quixote
ou Quijano que nunca sabe se é um pobre sujeito que sonha ser um paladino cercado de feiticeiros ou um paladino
cercado de feiticeiros que sonha ser um pobre sujeito. Seria
conveniente, por certo, eludir a paródia e a sátira; as tramas
deveriam ser daquelas que nossa mente aceita e almeja."

Dia 05: Um livro que me faz rir

Folheando na livraria, me arrancou boas gargalhadas. Tanto que tive que levar pra casa para rir mais à vontade! Gostei tanto que, contra todas as minhas convicções, emprestei para várias pessoas e já não sei mais onde está meu exemplar. O Boêmio também adorou e já comprou mais para dar de presente para outros.

Agora já não é mais novidade, virou seriado de tv a cabo e todos conhecem, embora muita gente ainda não tenha lido: Meu pai fala cada m*rda, de Justin Halpern.


A linguagem não é bem literária, mas se equipara à forma atual como nos comunicamos via MSN ou twitter, que é aliás onde o autor primeiro escreveu, para depois mudar para o formato livro. Este nada mais é que uma coletânea de tiradas engraçadíssimas ditas pelo seu pai, um homem muito correto e sério, mas sem papas na língua e um tanto desbocado, ao longo da vida.


Sobre o bairro onde o filho morou em Los Angeles:

"Parece que tem muitos gays por aqui. (...) Ah, por favor, não quis insinuar nada disso, acredite em mim. De qualquer maneira, nenhum deles transaria com você. Eles são gays, não cegos."


Sobre a morte do cachorro da família:

"Ele era um bom cachorro. Seu irmão está arrasado, pega leve com ele. O último instante dele com Brownie foi bonito, antes do veterinário jogar o bicho no lixo."


quarta-feira, outubro 26, 2011

New hipster on the block!


Bibi.



That's my girl.

Dia 04: Primeiro livro que me fez chorar

Assim, me fez chorar forte, de ter que interromper a leitura, de soluçar alto, sacudindo os ombros, de ficar funguenta e ranhenta por horas. Tá certo que eu tinha uns doze anos apenas, ultrassensível. E os livros do José Mauro de Vasconcelos são escritos para isso: fazer chorar muito.

Rosinha, minha canoa. O livro mais comovente da minha primeira juventude. A história é uma fábula sobre um pescador do alto Araguaia que vive em completa liberdade e intimidade com a natureza. Só aí, já rolou uma identificação: a jovem Meguinha quer viver a vida do protagonista Zé Orocó, solta no mato, autônoma e independente.


Mas Zé Orocó acaba preso num hospício (ele fala com as árvores, os animais e com sua canoa Rosinha). Sofre de tudo, injustiças, incompreensão, torturas, mas principalmente do banzo das barrancas do rio. E Rosinha, esquecida, cheia de caruncho, amarrada numa margem, sofre de abandono. Tudo é descrito com uma linguagem até simplória, mas cheia de delicadezas e lirismo, escorregando na pieguice, mas muito pungente.

Lembro de ter relido mais umas duas vezes ao logo da adolescência e de ter novamente chorado na oração de morte de Rosinha. Muita gente, na hora final, não deve ter tanto a agradecer:

"Senhor meu Deus!
Obrigada por tudo!
Obrigada por me haver feito nascer um belo pé de landi!
Obrigada por ter deixado os índios me descobrirem!
Obrigada porque os índios me fizeram uma bela canoa!
Obrigada por todos os belos entardeceres, ao pôr do sol, que tive e que não verei jamais!
Obrigada por ter resistido sempre aos grandes banzeiros do rio!
Obrigada porque meu rio sempre foi o Araguaia, o rio mais lindo do mundo!
Obrigada por ter tido somente dois donos: Curumaré a quem servi com toda a minha alma, e Zé Orocó a quem amei com todo o meu amor!
Obrigada pela paciência com que me fez suportar os grandes momentos de saudade!
Por tudo obrigada, e ainda mais; por deixar que eu morra como sempre desejei, perto de quem sempre amei.
Obrigada meu querido Deus, porque a vida, apesar de tudo é uma beleza!"

segunda-feira, outubro 24, 2011

Um bom ano

Como é que um diretor renomado, dois atores afamados e um cenário lindíssimo conseguem fazer um filme tão, mas tão, ruim?



Pois é, juntaram Ridley Scott, Russell Crowe, Marion Cotillard na Provence e fizeram uma comediazinha romântica ultracaricata, bobalhona e previsível. Se liguem no clichê: um empresário frio e calculista sai direto da chuva londrina para descobrir o amor e os prazeres da vida no ensolarado sul francês, ao lado de uma mocinha pobretona mas cheia de personalidade. Sem transição. É pá-pum, a personalidade do cara simplesmente se transforma ao cheirar alfazema. Só assistimos essa joça porque queríamos ver as paisagens provençais com as quais andamos sonhando.

Coisas que me incomodaram:

1) Um homem de negócios aí dos seus quarenta anos, rico e sofisticado, se comportando como um palhaço de circo, tropeçando nas coisas, caindo numa piscina vazia, fazendo um humor corporal bem pastelão. Cadê a dignidade, Russell?

2) A reafirmação contumaz e acrítica dos ridículos estereótipos que os anglo-saxões fazem dos povos meridionais: desorganizados, primitivos, irresponsáveis, comilões, sempre pensando naquilo, mas no fundo, de bom coração. Já tínhamos visto esse tipo de bobagem em Dois Dias em Paris e em Sob o Sol da Toscana. Outros dois desperdícios que só valem pela locação e olhe lá.

3) A mocinha de personalidade bipolar, durona mas boazinha, que se apaixona pelo cara com quem mais briga (estamos na quinta-série?) que se recusa ao amor mas cai na primeira cantada do protagonista. Marion, cadê a profundidade?

Comédia romântica já foi um gênero respeitável. Hoje tem todo o meu desprezo.
Só Woody Allen se salva.

sexta-feira, outubro 21, 2011

A nossa cortina



A nossa cozinha já não é muito grande e a porta, quando aberta, roubava um espaço significativo. O ideal seria uma porta de correr. Enquanto não há dinheiro para tal, vamos nos virando com a Cortina das Estrelas!!!!!

A cortina global




Olha aí a cena da novela. Reparem na cortina de borboletas coloridas.

Na verdade, a personagem não é empregada doméstica, mas uma estudante de Direito que mora numa comunidade pobre.

Dia 03: Livro favorito quando criança

Quando criança gostava muitíssimo de quadrinhos, tipo Asterix, Tintim, Spirou e Fantasio (aquele do marsupilami). Tínhamos a coleção completa dos dois primeiros e eu os relia com frequência. Em geral, livros em que o protagonista é criança atraem muito as crianças e eu não fugia à regra. Tom Sawyer e Huck Finn, as Mulherzinhas, Emílio de Lonneberg, a turma do Sítio do Picapau Amarelo, Pipi Meias-Longas e outros personagens mirins faziam a minha cabeça.

Mas um dos livros que mais gostei foi "A Ilha do Tesouro" de Robert Louis Stevenson, cuja versão integral, emprestada da escola, devo ter lido ali pelos 9 ou 10 anos. Um livro cheio de ação e aventura para uma menina cheia de energia e tédio dentro de um apartamento. Alternavam-se momentos aterrorizantes, como o encontro do menino Jim com o pirata cego e com o velho marinheiro abandonado na ilha, e cenas eletrizantes que obviamente me remetiam aos filmes de sessão da tarde daquela época com o bom e velho Errol Flynn e me deixavam alerta e espevitada.






Diz a Wikipédia que foi nesse livro que pela primeira vez apareceu um mapa do tesouro marcando com um grande X o local onde a arca cheia de ouro estava enterrada, hoje tão comum nesse tipo de história. E também foi neste livro que o conhecido estereótipo de pirata com perna-de-pau e papagaio no ombro apareceu e se tornou tão popular. Sem esquecer de mencionar a manjadíssima cançoneta bucaneira, inventada pelo próprio Stevenson:

"Fifteen men on the dead man's chest...
Yo-ho-ho, and a bottle of rum!
Drink and the devil had done for the rest...
Yo-ho-ho, and a bottle of rum!"

Nunca esqueci a impressão que me deixou de que a sensações de liberdade e segurança são inversamente proporcionais. Acredito que ainda hoje sua leitura seria um prazer para mim e lamentarei muito se minhas filhas não se interessarem em ler esse tesouro de papel e tinta.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Estamos na Gl0b0!

O sucesso do dia foi ver que, no núcleo pobre da nova novela, a cortina que separa a cozinha da sala é igualzinha à nossa!!!

Meu dia de trabalho:

Criar um tipo de remuneração para quem preservar recursos hídricos. Uma espécie de Bolsa Azul que seja para a água o que a Bolsa Verde é para a a vegetação.

Dia: 02: Livro que não gostei

Permitam-me uma pequena digressão antes de continuar. Estava eu pensando sobre os livros que li, o que gostei e não gostei, e me dei conta de que podia afirmar ter gostado de todos os livros que li na infância e adolescência. Somente a partir do início da idade adulta começam a aparecer na minha memória alguns livros de que, de fato, não gostei.

Aparentemente, pode-se pensar que, nos verdes anos da juventude, só fui exposta a literatura de excelente qualidade. Mas, refletindo melhor, acho que a explicação não é bem essa. Infância e adolescência: personalidade em formação, gosto literário em formação, pouca capacidade crítica. Se gostei de tudo o que li, não foi porque tudo o que li era bom , mas porque eu não sabia julgar exatamente o que era e não era bom. Com a maturidade, ali pelos vinte, vinte e pouquinhos anos, comecei a perceber as fraquezas estilísticas, a feiúra de determinadas construções frasais, a inconsistência de certas estruturas narrativas. Comecei a não gostar de algumas coisas.



Entro então no assunto de hoje. Estava eu na graduação, vinte anos, por aí. Paulo Coelho já era sucesso editorial com O Diário de um Mago e O Alquimista. E eu lia muitas críticas absolutamente negativas sobre ele e sua obra, mas havia muita gente ao meu redor que comprava e comentava e gostava de Paulo Coelho.



Nunca suportei não ter opinião sobre tudo. Tinha que ler um livro dele para poder defender ou atacar. E então ele lançou As Valquírias que peguei emprestado de uma colega de faculdade e foi talvez o primeiro livro que eu detestei com muita força. Li do começo ao fim, masoquisticamente, sem pular páginas. Achei a historinha frouxa e sem conexão entre os elementos (um casal que se mete pelos desertos do meio-oeste norte-americano procurando os anjos da tradição judaico-cristã e acabam encontrando um grupo de senhoras amazonas, remetendo à mitologia nórdica, que andam por ali meio a esmo), achei uma pobreza vocabular espantosa, achei a escrita pueril, convencional, sem sal.

Sendo eu, ou pretendendo ser, magnânima, ainda dei outra chance ao P. Coelho e comecei, depois d'As Valquírias, O Diário de um Mago, mas não passei dos dois primeiro capítulos. O cara é ruim mesmo.








"As Valquírias desceram. As roupas de couro, os lenços coloridos tapando parte do rosto, deixando apenas os olhos de fora, para não respirarem a poeira. Tiraram os lenços, e esfregaram-nos nas roupas negras, sacudindo o deserto dos seus corpos. Depois colocaram-nos no pescoço, e entraram no snack-bar. Eram oito mulheres.”

quarta-feira, outubro 19, 2011

Dia 01: Livro preferido de todos os tempos

Resposta complicada porque posso citar uma meia dúzia de títulos como meus preferidos de todos os tempos. Mas, destes, utilizando o critério "livro mais relido", destaco o Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. A cada dois ou três anos, mais ou menos, eu releio. E continuo a me encantar e continuo a descobrir coisas que não tinha percebido antes: uma expressão incomum, um neologismo que passou batido pela minha atenção, uma analogia divertida.



Certa feita, quando o relia, fui fazendo uma lista com todos os nomes e eufemismos dados ao coisa-ruim, ao caramunhão. Outra feita, listei os incríveis nomes e apelidos dos jagunços. (onde deixei essas listas, hein?).

Há quem diga que o amor e a morte são os principais temas do Grande Sertão Veredas. Eu discordo. Na minha leitura, a dúvida e a culpa que consumiram Riobaldo (ele fez ou não um pacto com o sujo? a morte de Diadorim foi um pagamento?) ao longo da vida são o principal fio condutor da narrativa. A história contada ao leitor é uma forma de exorcismo, uma tentativa de erradicação, de catarse, desses sentimentos que, até a velhice, oprimem o narrador.

"Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse... Mas, não diga que o senhor; assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, espe­rava por ela —já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece deter sua aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver; então era eu mesmo, este vosso servidor Fosse lhe contar.. Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é ditado. “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento. Estrumes... O diabo na rua, no meio do redemunho..."

Há dois trechos que me deixam até hoje emocionada: o primeiro, que me faz sofrer sempre, é a chacina dos cavalos, presos no curral, pelo bando dos hermógenes. A cena é de uma crueldade terrível. O segundo trecho se refere aos dias seguintes ao suposto pacto, quando Riobaldo, já proclamado Urutu-Branco, decide matar o primeiro que lhe aparecer na frente e lhe aparece na frente um pobre coitado dum caipira. Rodeado pelo bando, Urutu-Branco sofre o dilema de, ou matar o desgraçado, ou perder o respeito e a liderança do grupo, por não manter a palavra. O meu impulso, sempre que leio essa parte, é implorar sussurrando: "Mata não, Riobaldo!"

“Arre e era. Aí lá cheio o curralão, com a boa animalada nossa, os pobres dos cavalos ali presos,tão sadios todos, que não tinham culpa de nada; e eles, cães aqueles, sem temor de Deus nem justiça de coração, se viravam para judiar e estragar, o rasgável da alma da gente – no vivo dos cavalos, a torto e direito, fazendo fogo! Ânsias, ver aquilo. Alt’ -e-baixos – entendendo, sem saber, que era o destapar do demônio – os cavalos desesperaram em roda, sacolejados esgalopeando, uns saltavam erguidos em chaça, as mãos cascantes, se deitando uns nos outros, retombados no enrolar dum rolo, que reboldeou, batendo com uma porção de cabeças no ar, os pescoços, e as crinas sacudidas esticadas, espinhosas: eles eram só umas curvas retorcidas!”

terça-feira, outubro 18, 2011

Agora que todo mundo acabou,

...eu vou começar.
Amanhã.
Talvez.




Dia 01: Livro preferido de todos os tempos

Dia: 02: Livro que não gostei

Dia 03: Livro favorito quando criança

Dia 04: Primeiro livro que me fez chorar

Dia 05: Um livro que me faz rir

Dia 06: Um livro do meu autor favorito

Dia 07: Um livro que odiei mas tive que ler para a escola

Dia 08: O livro mais assustador que já li

Dia 09: O livro mais triste que já li

Dia 10: Clássico preferido

Dia 11: Livro preferido de animal

Dia 12: Livro preferido de ficção científica

Dia 13: Um livro que me lembra de alguma coisa

Dia 14:
Um livro que me lembra de alguém


Dia 15: Livro preferido de férias

Dia 16: Livro preferido que virou filme

Dia 17: Um livro que é um "guilty pleasure"

Dia 18: Um livro que ninguém esperaria que eu gostasse

Dia 19: Livro preferido de não ficção

Dia 20: Último livro que li

Dia 21: O melhor livro que li este ano

Dia 22: Livro preferido que li para a escola

Dia 23: Livro que li mais vezes

Dia 24: Série literária preferida

Dia 25: Um livro que odiava mas agora amo

Dia 26: Um livro que me faz dormir

Dia 27: História de amor preferida

Dia 28: Um livro que poderia citar de cor

Dia 29: Um livro que alguém leu para mim

Dia 30: Um livro que não li ainda mas quero ler

Paris, ou Haters gonna hate



Neste bistrôzinho, tomaremos demorados e deliciosos cafés da manhã à base de croissants fresquinhos e crocantes.


Neste outro bistrô, faremos refeições mais rápidas, mas absurdamente magníficas.



Nas ruazinhas de Montmartre, de certeza que vamos nos perder, consultar mapa, pedir informação aos transeuntes, eu vou dizer que é prum lado, o Boêmio que é pro outro, no fim, eu vou ter razão e vamos rolar de rir juntos.


Nesta pracinha, passearemos devagar, de mãos dadas, ao pôr-do-sol, após um dia intenso.


E na Pont Neuf, daremos um apaixonado super beijo cinematográfico!

segunda-feira, outubro 17, 2011

Casa nova

Com a queda do muro, não vai ser possível comprar o desejado sofá novo, nem reformar os armários e muito menos ir a Paris. Mas, com o meu bom-gosto e a criatividade do meu amado Boêmio, mudam-se as estantes de lugar, arrasta-se a bancada, move-se a mesa do computador, trocam-se os quadros, compra-se baratinho capas de almofada, penduram-se plantinhas no teto e... tcharãm... tem-se uma casa nova em folha, bonita, charmosinha e acolhedora!

Não que tenha ficado, assim, capa da "Arquitetura e Construção", mas me deixou bem satisfeita.

Fim de semana foi isso: enquanto descansávamos, carregávamos móveis.

O jardim também anda precisando de um trato e agora, primavera, é a época certa. Mas a chuva tem que dar um tempo. Mexer na terra molhada é muita lama, literalmente. Temos uma muda de romãzeira para passar para um vaso maior, temos que adubar todos os vasos, temos que acrescentar terra aos jasmins-mangas, temos que amarrar as trepadeiras, temos que refazer o gramado, etc., etc., etc.

Precisamos de um fim de semana inteiro de sol para tudo isso.
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Coisa boa de mexer na casa: jogar fora montanhas de papéis e coisas velhas e organizar certinho o que sobrou. Neste finde, saiu de lá, direto pro lixo ou para doação, pelo menos uns dez quilos de tralha.

quinta-feira, outubro 13, 2011

O universo conspira contra.

Nós aqui fazendo contas pra ver a viabilidade de uma viagenzinha e o vento sopra nosso muro no chão. Prejuízo de alguns mils reais.

É o Destino nos dizendo: "Se preparem para um Natal magrinho, fios."

Na chón:



terça-feira, outubro 11, 2011

Próxima viagem dos sonhos:

França.
Roteiro ídilico-gastronômico-cultural ainda desorganizado (cadê meu mapa da França?), sem cronograma e, principalmente, sem dinheiro.

Mas é isso aqui o que eu quero:

Marseille: comer bouillabaisse
Aix-en-Provence: cheirar alfazema fresca
Avignon: viver como um papa
Lourdes: rezar por todos nós e respirar os ventos dos Pirineus
Bordeaux: beber o bom vinho
Tours: conhecer os castelos do vale do Loire
Rouen: por Joana
Paris e Versailles: me deslumbrar mais uma vez e para sempre!

Boemia é para os fortes. De fígado.

Beber sábado à noite é para os fracos.

Quero ver quem é boêmio de verdade é no domingo. Do meio-dia à meia-noite. Como se não houvesse segunda-feira, como se não existisse trabalho, como se acordar cedo não fosse real, como se os amigos jamais fossem embora.

Meg e Rubão, campeões.

Só não nos perguntem pelo dia seguinte. Estamos até agora nos recuperando e nem sabemos como chegamos até aqui.

sexta-feira, outubro 07, 2011

Adolescência

Laurinha está terrível, reivindincando todo o seu pleno direito de exercer a aborrescência.
Está mal-criada, respondona, emburrada, mal-humorada, implicante o tempo todo.

Diálogo é a receita que os psicólogos oferecem como panacéia para todos os males. Mas quem disse que adolescente quer dialogar com adultos?! Eu tomo iniciativa, puxo assunto, pergunto, ofereço ajuda, me mostro disponível e nada. Mutismo. Ou, se não se cala, dá sempre as mesmas respostas frouxas: "não tenho nada", "não quero nada", "não é nada", "não tá acontecendo nada".

A última desta semana: a professora de natação chamou a atenção dela na aula, pois estava totalmente desconcentrada, enrolando para fazer qualquer exercício. E ela foi extremamente grossa com a professora, virou a cara, saiu batendo a porta do vestiário. Aí a prof veio falar comigo de como a Laura está difícil nas aulas.

Claro que dei uma bronca e um castigo, afinal eu e o pai fomos/somos professores, é inadmissível um comportamento desses com uma educadora. Laurinha chorou, não conseguiu se explicar, não sabia dizer porque tinha agido daquele jeito, não quis conversar a respeito. Consigo diálogos mais produtivos com o cachorro do que com ela...

Será que há algum problema mais sério por trás desse comportamento revoltadinho? Será que é falta de pulso firme da minha parte? Será que é só uma fase normal?
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Outra faceta deliciosa, só que ao contrário, da adolescência é a mania impertinente de me contrariar:

Se eu digo que uma comida é gostosa, ela diz que é ruim.
Se eu acho uma roupa bonita, ela diz que é feia.
Se eu acho uma música bacana, ela diz que é chata.
Se eu acho que um programa de tv é bobo (e acho isso de praticamente todos), ela diz que "é mó legal".

Paciência, vem ni mim!

quinta-feira, outubro 06, 2011

Melhor marido do mundo

A empregada avisa que vai faltar, as meninas esquecem documentos na escola, tenho que voltar lá duas vezes, o trânsito não flui, minha cabeça dói e faz um calor inenarrável.

Meu nome é Desanimada.

Chego em casa e...... tem almoço prontinho e gostoso me esperando, compras feitas e maridão sorridente! Esse meu Boêmio é o máximo!!!! Merece o mundo!
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Sabem o que me encarregaram agora de fazer no trabalho, meu próximo desafio?
ESTRADAS ECOLÓGICAS!

Muito legal! Mas tenho primeiro que estudar e descobrir exatamente o que é isso e quanto custa: contenção de erosões no acostamento, passagens seguras para animais silvestres, pavimentação parcial com materiais reciclados (borracha de pneu), etc.